sábado, outubro 24, 2009

VEJA Recomenda

VEJA Recomenda

DVD

A NOIVA ESTAVA DE PRETO
(La Mariée Était en Noir, França/Itália, 1968. Versátil)
• O cineasta François Truffaut era louco por Alfred Hitchcock: não só realizou com ele uma longa série de entrevistas (compiladas num livro excelente) como, em diversas oca-siões, brincou de imitar o mestre do suspense. A Noiva Estava de Pretoé seu esforço mais sistemático nesse sentido. Jeanne Moreau, perfeitamente fria e fatal, é a mulher misteriosa que assassina homens aparentemente inócuos. Todos estão ligados à morte a tiros de seu noivo nos degraus da igreja, anos antes, em razão de um equívoco. Logo, porém, as dúvidas afloram: seria mesmo um equívoco, e esses homens tiveram mesmo o papel que ela atribui a eles? No saldo final, Noiva é muito Hitchcock, mas é ainda mais Truffaut. E maior elogio que esse não se poderia fazer.

EXPOSIÇÕES

Fotos divulgação
EXPOSIÇÃO
Escultura de Rodin na mostra de Salvador: digitais do artista


AUGUSTE RODIN, HOMEM E GÊNIO
(a partir de terça-feira, no Palacete das Artes Museu Rodin Bahia, em Salvador)
E
RODIN: DO ATELIÊ AO MUSEU
(a partir de quarta-feira no Masp, em São Paulo)
• Com seus corpos retorcidos, que rompem a placidez clássica, o francês Auguste Rodin (1840-1917) é considerado o pai da escultura moderna. Em 1995, uma mostra de bronzes do mestre atraiu um público de 400.000 pessoas, no Rio e em São Paulo. Agora, em Salvador, uma nova exposição traz 62 peças de gesso, que fazem parte dos estudos originais para obras de bronze como Porta do Inferno. Cedidas pelo Museu Rodin de Paris, essas esculturas únicas trazem literalmente as digitais do artista e permanecerão por três anos na capital baiana. A mostra no Masp, que vai até dezembro, inclui 22 esculturas de mármore e bronze e uma coleção de 194 fotografias que apresentam o escultor em ação no seu ateliê.

DISCOS

DISCO
Air: eles já não soam como um velho grupo de rock progressivo


LOVE 2
, Air (EMI)
Pocket Symphony, o trabalho anterior do duo francês formado por Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin, era um bom disco, mas pecava pelo excesso de orquestração e pela produção que fazia o Air soar como um velho grupo de rock progressivo. No novo Love 2, Dunckel e Godin tocam vários instrumentos (o único convidado é o baterista Joey Waronker, ex-R.E.M.) e retomam o estilo de composição que marcou álbuns como Moon Safári (1998). As canções parecem feitas para constar de trilhas sonoras. Vão do kitsch (Love e Missing the Light of the Day, com seus corinhos femininos) a rocks que lembram temas de filmes de ação (Be a Bee, com suas guitarras distorcidas no ponto certo). Heaven’s Light, balada regada a piano, escaleta e teclados, faria sucesso em qualquer romance hollywoodiano.

DISCO
Ney Matogrosso: para cada disco rebolante, ele grava outro de repertório mais introspectivo

BEIJO BANDIDO, Ney Matogrosso (EMI)
• Para cada trabalho em que deixa aflorar seu lado pop (rendendo apresentações ao vivo vibrantes, nas quais capricha no rebolado), Ney Matogrosso lança outro disco calmo, com arranjo e repertório comedidos. Beijo Bandido pertence a esse segundo grupo. Escudado pelo bom pianista Leandro Braga – que também responde pela direção musical –, o cantor interpreta catorze canções que têm o amor como tema principal. Ney recria músicas como Tango para Tereza, sucesso na voz de Ângela Maria, e Doce de Coco, de Jacob do Bandolim. Dá até personalidade a uma canção tolinha como Nada por Mim, de Paula Toller e Herbert Vianna. Entre as inéditas, Invento é mais uma prova do talento do compositor gaúcho Vitor Ramil.

LIVROS

ALEIJÃO, de Eduardo Sterzi (7Letras; 160 páginas; 30 reais)
• Em seu primeiro livro de poemas, Prosa, de 2001, o gaúcho Eduardo Sterzi, de 36 anos, já mostrava um domínio extenso da poesia moderna (e anterior: autor dePor que Ler Dante, Sterzi é um estudioso do autor de Divina Comédia),construindo uma intricada rede de alusões e referências. Nesta nova coletânea, as citações tornaram-se mais sutis, e o poeta depurou sua dicção pessoal, na qual versos fraturados concentram imagens poderosas – como a da sangrenta pescaria de uma arraia em Para Fora d’Água. Aleijão é um livro tenso, áspero – mas com momentos de humor, como no poema em que Sterzi inventa personagens esdrúxulos batizados com variações de seu nome (Strazzi, Stronzo etc.). A ironia do livro estende-se aos próprios poetas, dos quais se diz: "Só pensam em dinheiro / matá-los seria perfeito / não fossem a sujeira e os berros". Trecho do livro.

REI DO CHEIRO, de João Silvério Trevisan (Record; 320 páginas; 47,90 reais)
• Autor de Ana em Veneza, romance sobre o ramo brasileiro da família do escritor alemão Thomas Mann, e Devassos no Paraíso, ensaio histórico sobre a homossexualidade no Brasil, João Silvério Trevisan, de 65 anos, examina, neste novo romance, o mundo dos novos-ricos de São Paulo. O rei do cheiro aludido no título é o paulista Ruan Carlos Coronado, homem que faz fortuna na indústria de cosméticos. A narrativa acompanha o personagem do nascimento, nos anos 50, até os tempos atuais, quando explodem em São Paulo ataques de uma facção criminosa conhecida como Croc (Comando Revolucionário Organizado do Crime). O romance mantém um diálogo irônico com a cultura de massas do período, citando marchinhas de Carnaval e novelas de rádio e televisão. Trecho do livro.