quarta-feira, setembro 23, 2009

Merval Pereira Ciro e Marina no jogo

O GLOBO

A pesquisa do Ibope divulgada ontem traz boas notícias para dois candidatos: Ciro Gomes, do PSB, mostra-se uma alternativa governista à candidatura oficial de Dilma Rousseff. E a senadora Marina Silva, do PV, desponta com consistência como a grande novidade, com potencial até mesmo para disputar o segundo turno, na opinião do presidente do instituto, Carlos Augusto Montenegro.

Como pesquisa é um retrato do momento, e não a certeza no dia da eleição, nada garante que o resultado em 2010 será o mesmo encontrado pela pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem. Mas, como ressalta o presidente do instituto, Carlos Augusto Montenegro, “é preciso analisar as curvas” ao longo do tempo.

As curvas de José Serra e de Ciro Gomes são de estabilidade, a de Ciro com viés de alta.

A curva da provável candidata Marina Silva, do PV, é certamente ascendente, e a da candidata do presidente Lula, ministra Dilma Rousseff, claramente de baixa.

A entrada em cena da senadora Marina Silva causou um rebuliço na corrida presidencial, mas até o momento o maior prejudicado com a novidade é o candidato tucano que, embora tenha se mantido em um patamar bastante confortável diante de seus adversários, perdeu a possibilidade de ganhar a eleição no primeiro turno.

Outro ponto importante a notar é que quando o candidato do PSDB passa a ser o governador de Minas, Aécio Neves, não apenas o candidato do PSB, Ciro Gomes, ganha a dianteira, como o número de votos brancos e nulos e os de indecisos cresce muito, chegando a ser, num dos cenários, de 31%.

Quando a ex-senadora Heloísa Helena, do PSOL, sai da disputa, aumentam os votos para todos os candidatos, sendo que Ciro Gomes cresce mais que Dilma e Serra, e Marina fica com o lugar de Heloísa Helena, com 8% dos votos.

Mesmo nos cenários em que Serra aparece na frente como candidato dos tucanos, o índice de brancos e nulos e o de indecisos continua muito alto, em torno de ¼ do eleitorado fica sem se decidir.

Montenegro acha que o de brancos e nulos acaba ficando na média histórica, em torno de 8%, o que deixa quase 16% de votos para se espalharem entre os candidatos.

Boa parte desses pode migrar para a candidatura de Marina, que o presidente do Ibope considera mais consistente do que a de Heloísa Helena, que está nesse patamar de 7% a 8% desde a última eleição em 2006.

Montenegro considera que Marina é mais equilibrada politicamente, e “está está envolvida com uma causa que agrada a todos, o meio ambiente, já foi ministra, é mais centrada”.

Ele lembra que, na eleição de 2006, a ex-senadora “era a válvula de escape do eleitor que estava desiludido com o mensalão do PT, e depois com o caso dos ‘aloprados’”.

Tanto que levou o Alckmin para o segundo turno, e ele teve menos votos, porque os da Heloísa Helena voltaram para Lula. Montenegro acha que Marina está entrando em um outro contexto, e está convencido de que ela “vai mudar essa eleição toda”, mesmo sendo difícil vencer, por ter pouco tempo de televisão.

O presidente do Ibope acha que a queda de Dilma “já é sinal de que as pessoas estão entendendo que o PT sem Lula é uma outra coisa”. Montenegro tem uma tese, defendida há muito tempo, de que, com o mensalão, ficou separado o petismo do lulismo, e ele diz que o que tem 80% de popularidade é o lulismo.

O fato importante nessa pesquisa, ressalta, é justamente esse: a popularidade do presidente Lula continua estável, e a candidatura de Dilma Rousseff descolou-se dele. Ele levou-a a um patamar de cerca de 20%, e ela não se sustentou.

“Como ela é baseada toda em cima do Lula, isso é grave”, analisa Montenegro, para quem “não é absurdo termos mais adiante três candidatos disputando quem vai para o segundo turno: Ciro, Dilma e Marina, podendo até a Dilma ficar no quarto lugar”.

Pela situação de hoje, diz ele, não seria absurdo imaginar que Marina e Ciro podem chegar ao segundo turno.

“Vai depender da força da televisão”, diz.

“Fica difícil para a Marina se ela tiver apenas 1 minuto, ou o Ciro com 3 minutos, mas se eles fizerem algum acordo de televisão, passam a ter chance”, analisa Montenegro.

Se chegarem à conclusão de que Dilma não dá mesmo, os petistas vão buscar outro candidato dentro do seu partido ou apoiam o Ciro, pergunta Montenegro, para quem o PT não tem alternativa viável para essa substituição. “Não se fabrica mais candidato”, adverte ele, que considera que “o PT perdeu todo aquele glamour, todas as lideranças”.

Nos últimos anos, lembra, “só saiu gente do PT, não entrou ninguém de peso”.

Essa pesquisa do Ibope não traz simulações do segundo turno, por ter sido encomendada pela CNI sem essa especificação, mas Montenegro considera que nada mudou em relação à pesquisa feita anteriormente para o PMDB, que deu “uma proporção de 70 a 30 a favor de Serra contra Dilma em votos válidos”.

Em uma próxima pesquisa, Montenegro pretende fazer simulações com a possibilidade de a base governista ter apenas um candidato, — no momento ou Dilma ou Ciro —, mas ele considera difícil que isso venha a acontecer.

Ele considera que o quadro mais provável é o que contrapõe os quatro principais candidatos: Serra, Dilma, Ciro e Marina. “Acho que o Ciro não desiste mais, está provado que ele tem potencial”.

Montenegro causou espanto quando afirmou, em uma entrevista para a revista “Veja”, que Lula não fará seu sucessor.

Ele está refraseando seu ponto de vista: “O que eu digo é que Lula não elege o sucessor do PT”.

Mas, “se der a louca nele de apoiar a Marina, apoiar o Ciro, se o Aécio nesses dez dias sair para o PMDB, o que acho quase impossível, aí ele pode fazer o sucessor”.

Carlos Augusto Montenegro diz que o candidato para ser viável “tem que ter luz própria, ter currículo, já ter disputado eleições. Qualquer candidato teria 14% com o apoio do Lula”.