Yuxin – Alma, de Ana Miranda
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Voz de passarinho
"Titiri titiri titiri", diz o índio no novo romance de Ana Miranda
Jerônimo Teixeira
Poucas vezes a cultura indígena foi retratada de maneira tão devastadora quanto em Yuxin - Alma (Companhia das Letras/Edições Sesc SP; 344 páginas; 51 reais), o novo romance da cearense Ana Miranda, de 58 anos, a consagrada autora das ficções históricas Boca do Inferno e Desmundo. A personagem principal do livro é Yuxin, uma Penélope inimputável que aguarda o retorno de Xumani, o marido que saiu para caçar e não voltou. Yuxin nunca deixa de escutar atentamente os pássaros da Amazônia, cujo canto se confunde com seu pensamento. Assim como a índia passa quase todo o seu tempo bordando, Ana Miranda passa o romance inteiro registrando onomatopeias. "Titiri titiri titiri titiri we... hutu, hutu, hutu", dizem as primeiras páginas. E as páginas do meio: "Titiri titiri titiri titiri we... hutu, hutu, hutu". Não se revelará nenhum mistério se forem reproduzidas aqui as palavras finais da trama: "Idiki, idiki, idiki... eh, eh, eh, eh, kwéék! Hutu, hutu, hutu, hutu... bre bre bre bre... kreõ kreõ kreõ kreõ... titiri titiri titiri titiri we... hutu hutu hutu hutu". Sem piedade, a autora explica que não tem nenhuma responsabilidade por essa maluquice. "Todas as onomatopeias são colhidas de depoimentos de índios", revela ela numa nota explicativa. Ora, ocorre que o homem urbano não é melhor do que o índio. Para que a exposição implacável da tolice humana se complete, sugere-se que o próximo livro de Ana Miranda seja sobre a moradora de uma metrópole que espera o marido voltar do boteco, enquanto absorve os ruídos da cidade. Bi bi. Fon fon. Scriiiiinch.