O sagrado e o profano
Abusar da credulidade dos fiéis para subtrair-lhes o suado dinheirinho em benefício próprio é um pecado pelo qual os chefes da Universal responderão quando se apresentarem perante o Altíssimo. Mas enquanto o Dia do Juízo Final não chega a Justiça dos homens cuidará do caso. A ela interessa apurar, provar e punir os desvios de conduta flagrados pelos promotores. O primeiro deles é a burla nas regras da imunidade fiscal concedida às igrejas de qualquer culto pela Constitui-ção brasileira. Cobrar o dízimo é legal e livre de impostos, desde que seu produto seja usado para as finalidades religiosas e sociais dos templos. Desviá-lo para o próprio bolso é crime. Mais grave ainda, segundo a denúncia dos promotores, é a manobra que teria sido usada por Edir Macedo e seus auxiliares para embolsar o dinheiro dos crentes. Eles são acusados de remeter ilegalmente os recursos a empresas financeiras situadas em paraísos fiscais no exterior. De lá o dinheiro voltava disfarçado de empréstimos para os chefes da Igreja Universal. Em seu despacho o juiz Brittes de Araújo faz a ressalva de praxe de que o recebimento da denúncia não equivale à condenação dos acusados, sendo apenas o primeiro passo do processo legal que levará à sentença. O magistrado, no entanto, ressalta que "há suficientes elementos de materialidade e indícios de participação de cada um dos réus nas infrações imputadas". A fé e o dinheiro, o sagrado e o profano, têm há séculos convivência explosiva em todas as religiões em todas as partes do mundo. É uma lástima que os estilhaços atinjam sempre com mais força destrutiva justamente os despossuídos, os doentes e os desesperados que atravessam as portas dos templos em busca de abrigo, cura e consolo. |