segunda-feira, julho 27, 2009

O problema é Chávez Igor Gielow

Folha de S. Paulo - 27/07/2009
 

BRASÍLIA - A crise hondurenha, de desfecho imprevisível, coroa toda uma era de diplomacia regional equivocada do Brasil. A unanimidade em torno da legitimidade de Zelaya parece não incluir a maioria da sociedade de Honduras. Os "golpistas", como são chamados os que estão no poder em tese até a realização de novas eleições, têm respaldo da Justiça e do Legislativo -que seguem abertos. 
Até aqui, aqueles que querem a volta do presidente deposto não foram jogados ao "paredón". Todos esses são sinais de que o mundo comprou como uma quartelada bananeira um processo muito mais complexo e, no limite, amparado na Constituição. Mas não é isso que se quer discutir aqui. O problema é Hugo Chávez. Ele preside sobre um modelo renovado de caudilhismo que contaminou meia América Latina. Só que seu "bolivarianismo" só pegou em casa devido à bonança petrolífera. 
Fora, vingou em Estados falidos como Bolívia e Equador, sempre usando a carta fácil do "povo no poder" contra elites corruptas. Não é preciso ter lido Orwell para perceber como se portam os "bolivarianos" no poder. A cooptação de Zelaya por Chávez e a consequente campanha pela destruição da Constituição foram rejeitados por uma parte expressiva de Honduras. Por isso o impasse atual. 
Ao longo dos anos, o Brasil fez vista grossa ao chavismo. Sob Lula, o apoiou ideologicamente, engolindo desaforos dele e de seus satélites sob a desculpa de que não pode ser imperial. Com isso, viu seus interesses serem atingidos e sua influência regional, questionada. Como o limite do não-intervencionismo de Obama parece ter sido atingido, os EUA começam a desembarcar da manada pró-Zelaya. Se isso ocorrer, o Itamaraty perderá o argumento do consenso. Poderia aproveitar e fazer leituras dos tons de cinza da situação. Mas, enfim, não é o que se espera.