BAIXINHO, BOLA FORA
Mesmo aposentado, Romário continua metido em encrenca.
Foi preso por não pagar pensão alimentícia e agora tem de
se explicar num caso obscuro de pirâmide financeira
Felipe O'neil/Ag. O Dia |
EX-CRAQUE EM APUROS Romário volta à delegacia nove dias depois de ter sido detido: endividado |
O ex-jogador Romário notabilizou-se no futebol por um estilo que até hoje muitos jogadores tentam imitar: o de irresponsável bem-sucedido. Declaradamente avesso à rotina de treinamentos e concentrações, Romário jamais seguiu as recomendações de treinadores e preparadores físicos. Vivia em boates, varava noites e pouco aparecia para treinar. Mas em campo seu desempenho era impressionante, com dribles desconcertantes e gols antológicos. Acabou se tornando também um craque em promoção pessoal. Esticou a carreira até os 41 anos, idade em que qualquer jogador está aposentado. E, há dois anos, causou comoção nacional em torno de seu milésimo gol – embora haja quem conteste essa conta, por incluir gols marcados quando ele ainda não era profissional. Depois disso, sumiu de cena. Seu nome só voltou ao noticiário nas últimas semanas. Virou caso de polícia.
Em dez dias, Romário foi parar duas vezes numa delegacia. Na primeira, ficou detido 22 horas por não ter pago a pensão alimentícia aos dois filhos mais velhos (que encabeçam uma lista de seis, com quatro mulheres). Só foi liberado depois que pagou 90 000 reais, referentes a dívidas da pensão. Na semana passada, ele teve de prestar depoimento em outra delegacia, como suspeito de envolvimento no golpe conhecido como pirâmide. O esquema incluía jogadores de futebol, policiais, bicheiros e pagodeiros e teria causado prejuízos de 10 milhões de reais. Romário nega implicação no caso, mas admite que conhecia dois integrantes do esquema – um deles acabou assassinado no início do ano. Há suspeitas de que ele tenha recebido ameaças de morte e de que chegou a ser agredido por um dos lesados no golpe.
Romário é um daqueles casos típicos de ascensão social meteórica que o futebol produz. Nascido na favela do Jacarezinho e criado no subúrbio carioca da Vila da Penha, o ex-jogador morou seis anos na Holanda e dois na Espanha. Passou a colecionar artigos caros, de relógios a carros esportivos – chegou a ter doze em sua garagem, incluindo modelos Ferrari, Porsche e Volvo. Sempre foi um perdulário. Ora nos negócios, como num bar temático no qual investiu 5 milhões de reais, no Rio de Janeiro, e que não durou nem dois anos, ora apostando dinheiro nos treinos e partidas de futevôlei com amigos. Suas confusões começaram cedo. Aos 30 anos, já enfrentava problemas nas varas de família. Enquanto Mônica Santoro, sua primeira mulher, brigava pela partilha dos bens, uma modelo exigia o reconhecimento de paternidade de um filho. As encrencas estão longe de ter fim. Estima-se que suas dívidas hoje cheguem a 10 milhões de reais. Para quitar pendências na Justiça, sua mansão na Barra da Tijuca, avaliada em quase 9 milhões de reais, será leiloada nesta semana. Romário consegue ver um lado bom nisso tudo. "Pelo menos estão me mantendo em evidência", diz.