sábado, julho 25, 2009

Entrevista: Brüno (ex-Borat)

da veja
Cinema

O führer do ultraje

O loiro, gay e depilado Brüno é o inverso do cazaque brega Borat, 
o outro personagem célebre do comediante Sacha Baron Cohen. 
Em comum com ele, só a missão de escandalizar

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"TODOS QUEREM BRÜNO"
O fashionista austríaco, de 19 anos declarados: ele acha o visual taxista chique do presidente iraniano uma graça e quer fazer uma balada de pôr abaixo o Muro das Lamentações

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Brüno é um sujeito afável: ao saber que daria uma entrevista para VEJA, tratou de polir seu português, que aprendeu em circunstâncias infelizmente impublicáveis. Loiro, vaidoso e adepto de roupas escandalosas, o fashionista austríaco de 19 anos declarados – a idade verdadeira é a única coisa que ele esconde – é o protagonista do novo filme do comediante inglês Sacha Baron Cohen, que três anos atrás tornou outro personagem seu, o repórter cazaque Borat, um fenômeno. Em termos de incorreção política, Brüno – o Filme, que estreia no Brasil em 14 de agosto, deixa Borat no chinelo. Brüno acha seu compatriota Adolf Hitler o máximo. Batiza o filho adotivo, um bebê africano, de O.J., como em O.J. Simpson. Expõe sua intimidade em cenas de fazer corar um profissional do cinema pornô. Visita Jerusalém vestindo uma imitação ultraexígua do traje dos judeus ortodoxos. Troca amassos intensos com seu assistente, Lutz, no ringue de um torneio de vale-tudo no estado caipira do Arkansas. E essa é só a parte que se pode descrever. Brüno (Cohen nunca sai do personagem) concordou em dar à editora Isabela Boscov uma entrevista exclusiva. A seguir, os trechos publicáveis da conversa:

Olá, Brüno. Como vai? (Em português) Tudo bem! Você tem lindos bumbuns!

Que surpresa. Onde você aprendeu português? Já fui íntimo de Milton Nascimento. E uma vez fiz cócegas no kugensack de Jorge Benjor enquanto ele dançava samba, em um show dele na Áustria. Foi muito difícil, porque ele não parava de pular.

Você também dança samba? Assim que começo a mexer os quadris para sambar, todos queremschtup Brüno.

Você conhece o Brasil? Não, mas sei que Copacabana é repleta de garotos fantastische. Assim como Los Angeles, onde estou agora. Este é um lugar cheio de associações sentimentais para mim: o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, foi meu namorado. No começo dos anos 80, fui entrevistá-lo durante o torneio de Mister Universo, e ele estava 50 gramas acima do peso da categoria dele. Arranquei aqueles gramas dele, mas não foi fácil. Ele é um sujeito grandalhão, e demorei um pouquinho a encontrar o que procurava.

Mas, se você tem 19 anos agora, que idade tinha quando entrevistou Schwarzenegger?Deixe-me ver: o começo dos anos 80 foi doze anos atrás. Então, se tenho 19 agora, tinha 17 na ocasião.

Você acha que Schwarzenegger vai gostar dessas revelações? Ach, Arnold é um grande homem. Ele, Mozart e, claro, Adolf são os grandes austríacos. Todos homens muito criativos. Hitler basicamente bolou sozinho o estilo da II Guerra. Aqueles uniformes – wunderbar! Só acho que, se ele tivesse ousado mais nas cores, os soldados nazistas teriam provocado mais sorrisos enquanto marchavam pela Europa.

Como foi sua infância? Fui educado de maneira um pouco diferente da habitual para as crianças austríacas: meu pai não me manteve preso num porão secreto nem me obrigou a fazer sexo com ele. A tensão, na minha casa, era de outro tipo: meu pai era muito ruim para com a minha mãe. Na verdade, ele a matou.

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"LISINHO COMO A TESTA 
DE NICOLE KIDMAN"

Brüno em look tirolês estilizado: 
dois depiladores hispânicos 
para cuidar das pernas,
e idas semanais ao salão 
para – melhor nem saber


Deve ter sido um trauma horrível. 
Minha mãe gostava de beijar meu pai, mas produzia saliva em excesso. Meu pai odiava o barulho dos beijos, aquele schmack schmack que os lábios dela faziam. Assim, um dia ele pôs um secador de cabelos na boca dela até que ela morresse. Portanto, foi mesmo muito traumático: tenho cabelos naturalmente encaracolados, mas fiquei quase quatro anos sem fazer escova. Sou meio obcecado por cabelo e pelos, sabe? Tenho dois empregados hispânicos que depilam as minhas pernas, e faço questão de que o meu kugensack fique tão lisinho quanto a testa de Nicole Kidman. Além disso, no mínimo uma vez por semana vou ao salão retocar meu arshenhale. Uma vez, o sujeito que cuida do meu arshenhale achou ali a cabeça de um boneco do Ronaldo.

Mas como...? Ach, as coisas se perdem ali o tempo todo. E não só por isso é muito importante ir ao salão: um dia, tentei retocar sozinho meu arshenhale e acabei grudado ao lençol – hahahaha.

Adoro sua risada, Brüno. Ela soa um pouco como a de Mozart no filme Amadeus. É uma risada bem austríaca? É, mas não tenho ouvido muitas risadas austríacas ultimamente. Os austríacos não perdoam o sucesso. Voltaram-se contra Mozart, contra Schwarzenegger, e é só uma questão de tempo até que se voltem contra Adolf também. E eu mesmo tenho tão poucas oportunidades de rir hoje em dia, com tanta tristeza no mundo.

Mas você parece ser uma companhia divertida. Ouço isso o tempo todo: meu assistente, meu estilista e meus chefs pessoais todos concordam que sou a pessoa mais divertida que eles conhecem.

Você tem chefs pessoais? E você acha que um corpinho como este acontece por acaso? Meus chefs me ajudam a vomitar pelo menos três vezes por dia. E, duas vezes por dia, vou à academia, para sexo no chuveiro.

Aquele senhor mexicano que no seu filme serve de cadeira para Paula Abdul ainda trabalha para você? Ele serviu de cadeira também para La Toya Jackson, mas tivemos de cortar essa cena do filme, por consideração. Vocês provavelmente não ouviram falar disso no Brasil, mas o irmão dela morreu há algumas semanas. Os mexicanos aqui de Los Angeles são uma gente ótima: você pode estapeá-los, bater na cabeça deles, fazer o que quiser, e eles nem sequer processam.

São os melhores homens do mundo? Nein, são os iranianos. Aquele presidente deles é uma gracinha. Adoro o visual dele, uma coisa assim taxista chique. É o George Clooney islâmico. Mas imagino que ele deve ser frustrado sexualmente: já ouvi dizer que ele não admite gays no Irã.

Como você ajudaria os iranianos a se soltar um pouco? Visitei toda aquela região da Terra Média: Israel, Síria, Jordânia, Palestina. Eles são pessoas ótimas, mas o problema deles é que lá não se encontra sushi em lugar nenhum. Só carboidratos, carboidratos e mais carboidratos – homus, pão sírio, essas coisas. Não é de admirar que esse pessoal brigue tanto: eles estão inchados e mal-humorados. Sem falar na moda, que está atrasada em bem umas 3 000 temporadas. Se eu tivesse de vestir aquelas roupas, também me explodiria. Quero organizar uma rave imensa, com todos os arabisches e judens, e pôr abaixo o Muro das Lamentações.

Como está seu filho adotivo, o pequeno O.J.? Ele chora muito e suja as calças, exatamente como meu último namorado. Ao contrário do que dizem as más línguas, não comprei O.J. na África: troquei-o por um iPod. E não um iPod qualquer, mas um de edição limitada. Quero frisar também que tomei todas as providências para que o iPod continue recebendo os cuidados adequados, uma vez que a mãe biológica de O.J. mora a 3 000 quilômetros da Apple Store mais próxima.

Ouvi dizer que você leva seu bebê para a balada. Ja, ele adora. Fica numa excitação incrível. Mas estou pensando em me livrar dele. Ele ficou tão 2008! A última tendência são os bebês da Somália, aquele país cheio de piratas. Só não arrumei um ainda porque acho que me custaria pelo menos um MacBook. Mas eles são tão fofos! Pequenos schwarze piraten! O único pirata pelo qual eu tinha me apaixonado até agora era o Johnny Depp, que é über-lindo.

Achei que você gostasse de Harry Potter. Conheci Harry num clube em Ibiza, dois anos atrás, e ele schtupped um amigo meu: deu a ele uma poção mágica, com duas partes de vodca, duas partes de Red Bull e um comprimido. Harry tem uma vantagem sobre Brüno: o rosto dele é ainda mais suave do que o meu. Agora, o que eu gostaria de saber é se o arshenhale dele também é assim tão suave.

Brüno, você não tem nem 20 anos e já foi tão longe. Onde você se imagina quando estiver mais velho – aos 22 anos, digamos? Não há limites para Brüno. Posso vir a inventar a calça de quatro pernas para dois homens, ou pintar uma das grandes obras de arte da humanidade, como quando Leonardo DiCaprio pintou a Mona Lisa; ou posso vir a me tornar um dos grandes pensadores da história, como Platão, Aristóteles e Shakira.

Stephane Cardinale/Corbis/Latinstock

"BORAT É UMA VERGONHA"
O repórter cazaque que fez 
de Cohen um sucesso: 
"Livre-se do bigode, 
do cabelo – e do próprio Borat"


Você não teme que o sucesso suba à sua cabeça? 
Não. Sou um homem muito humilde e reservado, o que você já saberia se tivesse lido alguma das minhas três autobiografias. Mas, escute, logo vou ter de encerrar a entrevista: Seal, o cantor, está batendo à minha porta. Ele vai me levar em um passeio hoje à noite.

A mulher de Seal, a modelo Heidi Klum, não vai ficar com ciúme? Nem me fale da Heidi! Essa mulher é uma über-****! Ela copia tudo o que eu faço. Eu ponho anéis para ir ao desfile, ela põe anéis para ir ao desfile. Eu me mudo para Los Angeles para ficarüber-famoso, ela se muda para Los Angeles para ficar über-famosa. Eu fico de joelhos para o Seal, e ela – bom, faça você as contas.

Você não está sendo tão duro com Heidi porque ela é alemã e você, austríaco? Todas as melhores coisas da Alemanha vieram da Áustria: Mozart, chocolates e Adolf.

Você já ouviu falar de um sujeito chamado Sacha Baron Cohen? Ele se parece muito com você – exceto pelo fato de ser bem mais peludo. Ele é obviamente gay. Tenho pena da mulher dele. Até a Katie Holmes faz mais sexo do que ela. E aquele filme, dele, Borat! Ele deveria ter vergonha de estereotipar assim os estrangeiros.

Borat anda por aí em um terno azul-bebê de poliéster e acha que está abafando. Há alguma esperança para ele? Livre-se do terno, livre-se do bigode, livre-se do penteado – na verdade, livre-se de Borat.

 

 

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