sábado, julho 25, 2009

Entrevista: Avigdor Lieberman, chanceler israelense

DA VEJA

O FALCÃO DÁ UM VOO 
NA DIPLOMACIA

Andre Penner/AP
CONTRAPONTO
Lieberman, ministro do Exterior de Israel, vem fazer 
contrapeso a Ahmadinejad: "Ele é maluco"

Despachar Avigdor Lieberman em missão de boa vontade é como nomear Pamela Anderson embaixadora da castidade. Comparativamente, no entanto, o ministro de Relações Exteriores e líder de um partido político quase tão à direita quanto é possível em Israel tem se mostrado contido. Fez até curso com um especialista em relações públicas para modular o discurso. Nascido com o nome de Evet na ex-república soviética da Moldávia, onde foi leão de chácara, trabalhou como carregador de malas em Israel e fez carreira política entre os emigrantes chamados genericamente de russos. Lieberman acha que a cidadania dos palestinos radicados em Israel deve ser condicionada a um juramento de lealdade ao estado. Também prega a troca de territórios com grande população árabe por parte dos assentamentos judeus na Cisjordânia. Na semana passada, ele veio ao Brasil como contraponto à próxima visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Falou ao editor assistente Thomaz Favaro. Os principais temas:

Ahmadinejad
O presidente iraniano nega o holocausto e declara toda semana que pretende destruir o estado de Israel, acabar com o sionismo e expulsar todos os judeus para a Europa. É inaceitável que uma pessoa racista e preconceituosa como ele seja aceita em qualquer lugar. Ahmadinejad é maluco. Essa é a nossa posição, e eu a expliquei a meu colega Celso Amorim e ao presidente Lula.

Como lidar com o Irã
Quando os cidadãos iranianos protestaram pacificamente contra o resultado das últimas eleições, foram brutalmente reprimidos pelo governo de Ahmadinejad. O mundo todo viu a verdadeira face do regime iraniano. Não podemos aceitar que a comunidade internacional continue a ser tão flexível com ele. O Irã é patrocinador de redes terroristas internacionais, como o Hezbollah no Líbano e o Hamas na Faixa de Gaza – também ativos na América do Sul, como mostraram os atentados terroristas ao centro judaico em Buenos Aires, em 1994. Os iranianos estão construindo instalações nucleares e afirmam que o fazem para fins pacíficos. Ao mesmo tempo, desenvolvem mísseis de longo alcance, provavelmente para disseminar essa capacidade nuclear pacífica para o mundo todo. Já desperdiçamos muito tempo com negociações. Precisamos de sanções mais duras contra o Irã.

Assentamentos
Os assentamentos não são um obstáculo para a paz. Isso é só uma desculpa do mundo árabe para evitar negociações diretas com Israel. O que havia antes de 1967, quando começamos a construir os assentamentos? O conflito e a tensão eram os mesmos. Entre 1948 e 1967, os árabes controlaram todos os territórios da Faixa de Gaza e Judeia e Samaria (nomes israelenses para aCisjordânia). Durante vinte anos, tiveram a possibilidade de estabelecer um estado palestino, mas não fizeram isso. Não estamos construindo novos assentamentos na região. As pessoas nascem, casam-se, têm filhos. É preciso providenciar uma vida normal para esses cidadãos – casas novas, hospitais, creches.

Terra sem paz
Promessas como a criação de um estado palestino em dois anos e slogans como terra por paz são apenas recursos da retórica. A intenção pacífica de ambos os lados precisa ser traduzida em passos e ações concretas. Nos últimos trinta anos, os israelenses abriram mão de territórios que, somados, representam três vezes o tamanho do país. Nas negociações de Camp David, em 2000, o primeiro-ministro Ehud Barak propôs a volta às fronteiras de 1967 e a partilha de Jerusalém. A resposta do líder palestino Yasser Arafat foi a segunda intifada. O primeiro -ministro Ariel Sharon iniciou a retirada unilateral da Faixa de Gaza em 2005, removendo 10.000 judeus que viviam na região. Os palestinos responderam com mísseis sobre as cidades israelenses. Demos todos os passos necessários para alcançar a paz e mesmo assim as negociações continuam emperradas.

Separação de corpos
A melhor solução para Israel é criar um estado mais homogêneo. Devemos seguir o exemplo de Chipre. Antes de 1974, gregos e turcos viviam juntos. Era um clima de conflito constante e, no fim, houve uma guerra. Depois de 1974, cada povo foi concentrado em uma parte da ilha. Mesmo sem um acordo de paz, desfrutam segurança, estabilidade e prosperidade. Em Israel, seria impossível trocar completamente todos esses territórios com os palestinos. Mas essa seria a melhor maneira de reduzir o atrito entre os povos.

Juramento de lealdade
Queremos seguir o exemplo dos Estados Unidos, onde todos os estudantes fazem o juramento à bandeira do começo ao fim do ciclo escolar. O povo judeu presta lealdade a praticamente todos os países do mundo onde vive. Há judeus no Brasil, na Rússia, nos Estados Unidos. Eles servem no Exército e vão à guerra por esses países. Nós também temos o direito de esperar que todos os cidadãos de Israel sejam leais. Se o cidadão não quer jurar lealdade à bandeira, a escolha é dele. Mas, como país, precisamos exigir essa posição.