FOLHA DE S. PAULO
Crédito doméstico cresce a um terço do ritmo pré-crise; renda do trabalho sobe cada vez menos; governo gasta mais
ONDE FICA o fundo do poço do elevador da economia brasileira? No caso do crédito doméstico, parece que fomos ao segundo subsolo em fevereiro, mas estamos agora pouco acima do térreo.
Quanto à renda do trabalhador, o elevador desce desde julho de 2008, mas ainda não passou do chão. No que diz respeito ao déficit do governo federal, o saco é ainda sem fundo. É o que se depreende de um conjunto de dados divulgados ontem.
Desde outubro do ano passado, o crédito doméstico cresce a uma taxa mensal que é quase um terço da registrada nos meses anteriores à crise de 2008. Os bancos privados nacionais voltaram a emprestar -de dezembro até abril, os bancos públicos respondiam por quase 80% do aumento mensal do estoque de empréstimos. Agora, a banca privada de propriedade nacional voltou a superar os bancos públicos nessa conta.
Mas os bancos de capital estrangeiro reduziram seu estoque de crédito em todos os meses deste ano com exceção de março (sempre considerando o crédito doméstico). As novas concessões de crédito para empresas (empréstimos novos, calculado pela média diária) caíram bem, pelo segundo mês consecutivo. Os empréstimos consignados sustentam quase dois terços da expansão do crédito para pessoas físicas. Em suma, o aumento do estoque de crédito é regular, mas baixo -pode ser que os clientes ainda temam tomar empréstimos. Mas, no caso da banca estrangeira, a contração da oferta de crédito parece deliberada.
A expansão do consumo depende de crescimento balanceado de crédito e renda. Um dado positivo desta crise foi que a renda do trabalho continuou crescendo em relação ao ano anterior (nas seis regiões metropolitanas acompanhadas pelo IBGE). Mas cresce cada vez menos. A massa salarial aumentava na casa dos 10% ainda em agosto de 2008.
Foi minguando até o ritmo de 3%, em abril (sempre em relação ao mesmo mês de 2008). O número de pessoas ocupadas em relação ao número de pessoas em idade de trabalhar estagnou faz um trimestre. Na comparação com o resto do mundo, com as exceções asiáticas de costume, tais resultados são bons.
Ficamos muito longe de um desastre, ao menos (na crise de 2003, por exemplo, a massa salarial caiu brutalmente). Mas o elevador da renda do trabalho ainda está descendo, sem a compensação de uma retomada mais forte do crédito. Em suma, é um resultado de PIB zero, de economia ainda se contorcendo no fundo do poço ou andando de lado.
Parte da sustentação da renda no país (mas não só da renda do trabalho) se deve ao aumento do gasto público. Até certo ponto, uma alta do déficit devida a transferências sociais e investimento público é razoável. Mas os dados divulgados ontem sobre o déficit do governo federal indicam algum excesso. A arrecadação líquida no ano quase estagnou (na maior parte devido à redução de impostos para incentivar o consumo), mas as despesas cresceram 18%.
A despesa com investimentos subiu quase 25%, o que é razoável. Os gastos com o funcionalismo cresceram quase outro tanto: 22%. Em ano de crise, o resultado pode ser aceitável; mas o aumento da despesa tem sido recorrente. Para piorar, o ano que vem é de eleição. De gasto.