Apesar da crise, a rede bancária brasileira continua expandindo suas operações de crédito no mercado interno. Este é um momento que vai na contramão do que ocorre nos países ricos.
O crédito correspondia a 35,5% do PIB em março do ano passado e chegou a 42,5% em março deste ano. Mas a sensação geral do mercado é o contrário disso; é a de que o crédito hoje está tão apertado como em setembro/outubro, auge da crise.
Essa sensação está certa, mas os números também estão. Não é difícil entender o que houve. As operações de crédito externo caíram substancialmente em consequência da perda da confiança global. E, na medida em que viram bloqueado o acesso ao crédito externo, as grandes empresas caíram sobre as fontes internas de financiamento. Ou seja, as mesmas tetas bancárias tiveram de alimentar mais filhotes. E, assim, embora os bancos tivessem de produzir mais, a bicharada ficou com a sensação de que ficou faltando. E de fato, faltou.
Os bancos só puderam aumentar suas operações de crédito no mercado interno porque a dívida pública caiu de 41% do PIB em março de 2008 para 37% em março deste ano. Em outras palavras, os bancos puderam canalizar menos recursos para a compra de títulos do Tesouro (por meio dos quais o governo faz suas dívidas) e aplicar a sobra nas suas operações de crédito.
O mercado de crédito está enfrentando três fatos interessantes. O primeiro deles é o aumento de participação dos bancos estatais no mercado geral do crédito, que subiu de 1,8% em outubro para 2,2% em março.
A explicação para esse movimento é a diferença de atitude. De um lado, os bancos privados passaram a ser bem mais conservadores na concessão de novos financiamentos porque temeram a inadimplência que viria com o aprofundamento da crise. De outro, preocupado com o perigo de recessão e com a ampliação do desemprego e, talvez mais do que isso, preocupado com os custos políticos que daí adviriam da falta de crédito, o governo aumentou a pressão sobre os bancos estatais para que irrigassem mais fortemente o mercado carente de recursos.
O segundo fato digno de nota é o aumento da inadimplência, pelo quarto mês consecutivo, fenômeno que bancos privados tanto temiam. Em setembro de 2008, o calote das empresas (atraso de 15 a 90 dias no pagamento das dívidas) correspondia a só 1,6% do total. Em março deste ano, esse número subiu para 2,6%. No mesmo período, a inadimplência das pessoas físicas subiu de 7,3% para 8,3% do total.
Enfim, a queda da atividade econômica, o aumento do desemprego e o jogo de retranca com que toda a sociedade reagiu à crise prejudicaram a capacidade dos devedores de honrar seus compromissos financeiros.
Outro fato, menos notado, é a queda do spread (diferença entre o que o banco paga pelo dinheiro e o que cobra no crédito) praticado nas operações prefixadas. Chegou a ser de 40 pontos porcentuais em dezembro, mas caiu a 36,9 (mesmo nível de outubro). Os juros cobrados estão caindo devagar, bem mais devagar do que o desejado, mas também estão caindo. (Veja o Confira.)
O resumo da ópera é de que a situação do crédito melhorou, mas não o suficiente para ajudar a combater a crise.