sábado, fevereiro 14, 2009

Sucessão Dilma Rousseff: uma candidata em campanha

ANTECIPAÇÃO DE CAMPANHA

Com agenda de candidata, a ministra Dilma Rousseff deflagra
a corrida presidencial com mais de um ano de antecedência
e alimenta o debate sobre o uso da máquina pública


Expedito Filho

SANTINHOS O encontro de prefeitos teve até quiosque para quem quisesse levar
de recordação uma fotomontagem ao lado de Lula e da ministra Dilma
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Como hipótese, a candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff é debatida nos meios políticos há mais de um ano. Como realidade, ela se apresentou definitivamente às ruas na semana passada, primeiro durante o Encontro Nacional com Novos Prefeitos, na terça-feira, em Brasília – um evento administrativo que foi organizado à moda de um comício eleitoral –, depois na festa de aniversário dos 29 anos do PT. Saudada como candidata, aos gritos de "olê, olê, olá, Dilma, Dilma", mantra antes dedicado apenas a Lula, a ministra tirou fotos, abraçou os petistas e disse que vai montar uma agenda para se aproximar mais da população e dos partidos aliados do governo. No dia seguinte, Dilma jantou no Palácio da Alvorada com Lula e quatro pesos-pesados da economia. Discutiu a crise econômica e falou sobre a sucessão presidencial. Não pediu apoio explícito, mas começou a construir as pontes com potenciais financiadores de campanha. Na quinta-feira, Dilma foi com Lula visitar as obras de uma ferrovia em Pernambuco. No estado onde o presidente é quase unanimidade, Dilma ensaiou o que mais fará nos próximos dois anos: o contato direto com o eleitorado. Não existe outra definição para isso a não ser campanha.

"Dilma pegou gosto pela coisa. No início, aceitou a candidatura como uma missão da qual não podia fugir. Agora, está à vontade, empolgada. Botou na cabeça que quer ser a primeira mulher a chegar à Presidência", avalia um ministro com gabinete no Palácio do Planalto. Em outras palavras, a campanha foi deflagrada quase dois anos antes das eleições e quinze meses antes do que permite a lei. Dilma tem sido cada vez menos ministra e cada vez mais candidata. As reuniões com assessores vão dando lugar aos encontros com futuros membros de sua equipe de campanha. O principal deles será Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, que terá uma equipe de petistas para assessorá-lo, a maioria deles prefeitos que deixaram o cargo no começo do ano. Haverá pelo menos um responsável por região do país encarregado da coordenação e da arrecadação de verbas. Os nomes já foram escolhidos. Além da montagem da equipe política, Dilma tem se dedicado à própria preparação da campanha. Recentemente, contratou uma empresa de comunicação que vai treiná-la para contatos com a imprensa. A ministra também já tem em sua assessoria dois escritórios de advocacia de Brasília especializados em direito eleitoral para se precaver de possíveis acusações de abuso da máquina nas viagens de inaugurações do PAC, como a que foi protocolada pelo DEM no TCU na semana passada. O DEM e o PSDB também pretendem acionar a Justiça Eleitoral.

O problema do governo em antecipar uma disputa eleitoral em tanto tempo é que, a partir de agora, tudo será observado com uma lente de campanha. Lula quer usar sua enorme popularidade para promover Dilma Rousseff. Ao fazer isso, contamina debates que perdem força em meio a disputas eleitorais. No encontro com os prefeitos, por exemplo, o presidente anunciou a decisão de renegociar as dívidas das prefeituras com o INSS – uma espécie de Refis da Previdência. A medida, festejada pelos prefeitos na presença de Dilma Rousseff, foi interpretada como um agrado que o governo fez de olho em 2010. A mudança permite às prefeituras uma folga maior no caixa neste momento em que a crise mundial começa a afetar até mesmo a rotina pacata de pequenos municípios brasileiros. "Teoricamente, a medida é boa, mas o governo deveria carimbar esses recursos para investimentos em obras de infraestrutura. Sem isso, os prefeitos podem dar ao dinheiro destinações que apenas aumentem as despesas", diz o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas. O presidente Lula ficou irritado com a conotação política que se deu ao chamado "pacote de bondades" para as prefeituras. Não deveria. É um efeito colateral perfeitamente justificável diante da campanha eleitoral que foi colocada na rua pelo próprio governo.