sábado, fevereiro 21, 2009

Furnas: troca em fundo de pensão gera protesto


O GLOBO
Funcionários da estatal ameaçam greve e reclamam de ingerência do PMDB; reunião na quinta-feira definirá mudança

Maiá Menezes

Um imbróglio pós-carnavalesco opõe a direção de Furnas Centrais Elétricas e seus funcionários. A convocação, anteontem, de uma reunião extraordinária do conselho deliberativo da Fundação Real Grandeza, fundo de pensão da estatal, para a próxima quinta-feira, provocou reação de ser vidores, que ameaçam greve. O presidente de Furnas, Carlos Nadalutti, propõe como pauta da reunião a exoneração, a partir do dia 26, do diretor-presidente da fundação, Sérgio Wilson Ferraz Fontes, e do diretor de Investimentos, Ricardo Carneiro Gurgel Nogueira.

A empresa argumenta problema de relacionamento com a atual gestão para justificar a troca.

Em protesto, os conselheiros Marcos Vinícius Vaz e Ronaldo Neder renunciaram aos postos. A base sindical de Furnas, composta por 20 sindicatos, planeja greve. Ao todo, são 12.500 filiados à Real Grandeza, 5.700 deles ativos. Os conselheiros seriam substituídos por Victor Albano da Silva Esteves e Wilson Neves dos Santos.

Já houve duas tentativas de substituição no fundo A queixa dos funcionários é de ingerência política na estatal: eles sustentam que, como na gestão do ex-presidente da empresa Luiz Paulo Conde, as mudanças acontecem por pressão política do PMDB. O ex-presidente da estatal teria sido indicado pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que nega a ingerência. A primeira proposta de substituição do conselho, em novembro de 2007, foi feita por Conde. A derrota no conselho foi por seis votos a zero. Em setembro de 2008, houve outra tentativa de substituição, também rejeitada.

Nadalutti, um funcionário de carreira de Furnas ligado ao PMDB mineiro, assumiu em outubro de 2008. Segundo a atual administração do conselho, esta é a sétima renúncia de conselheiros desde o começo da gestão Conde.

A legislação é clara: somente o conselho deliberativo da Real Grandeza, que tem composição paritária entre indicados por Furnas e Eletronuclear e eleitos pelos empregados, tem competência para nomear ou exonerar dirigentes. A briga esquentou com as denúncias feitas pelo senador Jarbas Vasconcellos sobre corrupção no PMDB.

— Pela primeira vez, poderá ocorrer uma greve de empregados de Furnas em defesa do fundo e não de uma reivindicação salarial ou outro item da pauta tradicional. Será pela defesa do patrimônio da fundação.

O clima é de indignação.

As bases levarão a um movimento de greve — sustenta o conselheiro Geovah Machado, representante dos aposentados no fundo.

Na semana passada, em protesto, os empregados do chamado Fórum em Defesa da Real Grandeza paralisaram suas atividades no Rio, já em protesto contra as tentativas de modificação do conselho da Real Grandeza. O grupo está em assembleia permanente, depois de aprovada proposta do presidente do Sindicato dos Eletricitários do Rio, Magno dos Santos Filho.

No texto que convoca para a reunião dos conselheiros, a direção de Furnas sustenta que “nos últimos meses, tem-se verificado que a questão da substituição dos Diretores Presidente e de Investimentos da FRG vem agravando o relacionamento entre a Fundação e as patrocinadoras (as estatais que têm cadeira no fundo), o que vem trazendo prejuízo para todas as partes envolvidas”. E a justificativa continua: “e assim torna-se de todo conveniente a substituição ora proposta, face à imperiosa necessidade de se restabelecer o relacionamento entre as patrocinadoras e a diretoria da Fundação Real Grandeza, para restaurar a relação de confiança entre as partes”.

Medo de perdas no fundo, com má administração A Associação Nacional dos Fundos de Pensão (Anapar) enviou ontem carta à ministrachefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pedindo interferência para evitar a substituição.

O argumento da Anapar é de que, na gestão do atual presidente, se observou um superávit de R$ 1,2 bilhão no fundo.

O conselheiro Geovah Machado argumenta que os empregados veem, na troca, uma ameaça às suas aposentadorias, por causa do risco de descontrole e ingerência política.