Consolidação de oligopólios privados sob patronato estatal é um dos aspectos mais relevantes do período luliano |
A GENTE SE ocupa muito do Banco Central. Trata-se menos do BNDES, com exceção daquelas fusões & aquisições financiadas pelo banco que rendem mais chacrinha. E pouco se trata do papel de Petrobras, Banco do Brasil e fundos de pensão paraestatais na criação de oligopólios privados. Mas a atuação das estatais na reorganização do controle da grande empresa é um dos aspectos mais relevantes do governo Lula. Os negócios merecem instância ou comissão especial do Congresso para acompanhá-los.
Grupos consolidados ganham escala e melhorias na administração, com o que podem se tornar mais eficientes. Mas sabemos muito pouco da transferência de renda, direta e indireta, propiciada pelo patronato estatal de fusões & aquisições. Não sabemos se o Estado impulsiona investimentos ou apenas os subsidia.
O governo Lula avisou que patrocinaria tais negócios. O objetivo da política industrial é criar grandes empresas nacionais, quem sabe uma versão tropical de zaibatsus e keiretsus (conglomerados japoneses).
O BNDES forrou a cama da compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar. Indiretamente barateou a operação, que beneficiou Andrade Gutierrez e La Fonte. O dinheiro grosso do Banco do Brasil construiu a cama forrada pelo BNDES. Sem o BNDES, não haveria a compra da Aracruz pela Votorantim, ambas tisnadas por grossa incompetência e cupidez no caso dos derivativos cambiais.
A Petrobras subsidiou e organizou a consolidação da petroquímica, o que deu na Braskem (Odebrecht) e na Quattor, que dominam o mercado e são sócias da petroleira. Além de reduzirem a confusão do setor (e tomá-lo), Braskem e Quattor querem baratear a fonte de seu principal insumo, a nafta da Petrobras. A maior parte dos novos investimentos do BNDES na petroquímica vai para o Comperj, o complexo petroquímico de Petrobras e cia., no Rio, onde a Petrobras vai produzir mais nafta.
O BNDES financiou a transformação do JBS-Friboi no maior frigorífico do mundo. Agora, pode apadrinhar a compra do Bertin pelo JBS.
O BNDES articula a fusão de grandes usinas de álcool, com o que ajudaria a atenuar os problemas causados por superinvestimento e novatos afobados no setor. No ano passado, o BNDES emprestou quase R$ 6 bilhões a grandes usinas (de Odebrecht e Bertin inclusive).
Houve aquisições mais discretas, mas relevantes, embora longe dos bilhões dos negócios citados. Em 2008, a Totvs (softwares de gestão) comprou a Datasul com ajuda de R$ 404 milhões do BNDES; ambas têm um terço do mercado. Outro negócio do ano passado foi a compra da Azaléia pela Vulcabrás, que recebeu R$ 314 milhões do BNDES.
No início de 2008, o BNDES retomou planos para criar um grande laboratório farmacêutico nacional. Em 2006, o BNDES emprestara R$ 295 milhões para o Aché, maior grupo nacional do setor, comprar a Biosintética. Ainda em 2008, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, disse que discutira com Lula planos de financiar fusões e aquisições na estremecida construção civil.
O BNDES, sócio de dezenas de grandes empresas e ersatz do mercado de capitais, é um grande polo de poder econômico do governo (o outro é o BC). Ninguém liga muito.
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