O mais discutido na véspera foi o teor do discurso. Especialistas em falas presidenciais passaram a semana dando conselhos. Roosevelt? Só devemos temer o nosso medo. Kennedy? Não pergunte o que o país pode fazer por você... E toda essa coisa.
Uma canção brasileira bastaria para inspirar Obama. Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. E, no início do discurso, reconheceu a queda e não desanimou, exatamente como manda a letra.
Curioso que já usamos esta canção, quando Volta Redonda estava no buraco. O slogan era: Volta Redonda, volta por cima.
Como os EUA não são Volta Redonda, Obama faz bem em contar com a ajuda divina. Jornais observam como tudo mudou desde o início da campanha. Parece uma década. A GM estava bem, não havia uma grave crise no ar. A própria necessidade de demonstrar que era contra a guerra no Iraque, mas não contra todas as guerras, o levou a conservar Robert Gates na Defesa.
Como Obama vai tratar os inúmeros problemas imediatos e conduzir as questões de médio e longo prazo? A combinação exata é difícil. Como descer das nuvens da grande expectativa para a realidade sem causar frustração? Quer seguir os passos de Roosevelt e conversar muito com o país. Esta é uma transição delicada. Quando vi o casal entrar na Casa Branca, pensei: tempos interessantes. Desses, tão complexos, que os chineses não desejam para ninguém. No discurso, uma indicação: entre a segurança e os nossos ideais, escolher os dois. No dia seguinte, um ato: suspensão dos processos de Guantánamo.
O êxito de Obama será um fio de esperança contra o cinismo na política.
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