RIO DE JANEIRO - Todos os anos faço um balanço, tiro conclusões. Em 2008 fico devendo. Depois de uma campanha eleitoral de seis meses, parei alguns dias para estudar e concluí: o mundo em que vivia, sob muitos aspectos, já não existe mais.
Todos prevíamos um tipo de crise. Aterrissagem suave ou dura nos EUA? Até que ponto vão se endividar mais? Não previ o quase colapso do sistema. Não vou me culpar por isso; os economistas também falharam. Há sempre a tentação de empurrar a própria agenda na crise. Energia, sustentabilidade, redução de emissões.
Os que optam pelo Estado anunciam sua volta triunfal. Lembram-me um ministro húngaro: antes uns fanáticos nos garantiam que o Estado resolve tudo; agora vieram outros fanáticos, dizendo que o mercado resolve tudo. É a melhor combinação dos dois que está em jogo.
Se a economia nos chocou, a política nos encheu de esperança. Teremos de novo os Estados Unidos na luta contra o aquecimento, renovando em energia, empenhando-se conosco nas soluções diplomáticas para os conflitos no mundo. Obama escolheu dois homens capazes para ciência e para energia.
Evitei discutir 68. Indiretamente, acertei. Tanto falamos de 68 em 2008 e não sabíamos ainda do surgimento de uma crise que só acontece duas vezes num século. Talvez tenhamos de começar a contar também os aniversários desse ano. Nele as coisas vieram da economia, que mexe com a sobrevivência. Em 68, emergiam as questões ligadas à liberdade. Necessidade e liberdade, outra combinação delicada.
Obama é uma referência mundial. Até que ponto vai domar a crise, achar novos caminhos, combinar a necessidade de decidir com o reconhecimento de que nem tudo está claro? Tarefas para um novo tempo. E um novo tipo de governo: mais aberto à vida real.