sábado, novembro 29, 2008

A união faz a beleza


Com despesas quase tão altas quanto as da noiva,
as madrinhas se arrumam juntas, dividem a conta
e ainda se divertem


Silvia Rogar

Miguel SA/divulgação

DIA DAS MADRINHAS
De roupão, as de Juliana (no centro) brindam no spa do hotel; prontíssimas, Karina (de estampado) e colegas aguardam no salão a hora de brilhar

Denise Adams

Lá vem a noiva. E, à sua frente, um séquito de beldades como ela: bronzeadas, com cabelo e pele cuidadosamente tratados e vestidos para arrasar. São as madrinhas, uma turma animada e dedicada que, nesta atual e muito profícua safra de casamentos, não poupa tempo nem dinheiro para estar deslumbrante no dia do evento. Nem poderia, aliás: já pensou ocupar seu lugar no altar no grande dia e perceber que todas estão lindamente bronzeadas, menos você? Assim, em nome da amizade, da beleza e de um descontinho (tratamentos em grupo sempre têm), elas invadem cabeleireiros e spas, promovendo festinhas antes da festança enquanto se põem lindas. A procura é tanta que já modificou a rotina e a arrumação dos salões. Há dois meses, o paulistano MG Hair passou a reservar quatro salas aos sábados para grupos de moças que de lá saem prontinhas para a cerimônia. "Em novembro, batemos nosso recorde: num único dia, doze noivas, com pelo menos quatro acompanhantes cada uma", comemora Graça Teixeira, contratada pelo salão só para se dedicar ao nicho. No carioca Care, que tem endereços no tradicional hotel Copacabana Palace e em Ipanema, o movimento de noivas e madrinhas em bando triplicou em 2008. Volta e meia, a proprietária, Ivani Werneck, precisa aumentar em até 30% o time de profissionais. "Depois de prontas, muitas vezes a diferença entre as madrinhas e a noiva se resume ao véu e grinalda", atesta a empresária.

Foi no Copacabana Palace que a estudante de psicologia Juliana Pereira da Silva, 24 anos, juntou nove madrinhas, no mês passado, para algumas horas de tratamentos. Primeiro, massagens revigorantes, sauna e banhos; depois, cabeleireiro; nos intervalos, brindes e brindes (esvaziaram-se dez garrafas de champanhe). "Foi fundamental deixar o stress para trás e entrar no clima da festa. Fizemos até um pacto: todas vão repetir a dose quando forem se casar", diz Juliana. Como o Copa é o Copa, um pacote desses para dez pessoas sai por 3 000 reais, fora os serviços de cabeleireiro – e o único drinque incluído é o de chegada. A essa altura, às vésperas do casamento, a madrinha já estará acostumada ao alto custo de um posto na lateral do altar e às exíguas opções pessoais reservadas às que desfrutam tal honraria – no mundo das madrinhas, quem decide é a noiva ou o grupo, e ponto final. E madrinhas não faltam, nem casamentos, nem contas nos milhares de reais. A empresária Regina Lundgren, que criou um espaço só de artigos de festa em sua loja de roupas de luxo no Rio de Janeiro, vestiu 170 madrinhas nos últimos quatro meses. Em média, o figurino de cada uma delas custou 2 200 reais. "Os casamentos viraram festas black-tie", atesta Regina. O vestido, claro, é só o começo. "Tem de ser muito amiga da noiva, porque sai caro. Mas a gente se sente especial quando isso acontece e capricha mesmo", diz a coordenadora de eventos paulistana Karina Barbosa, que aceitou participar do cortejo de quatro casamentos só neste ano e gastou, em média, 3 000 reais por festa. No fim de semana passado, lá estava ela, a postos. Antes da cerimônia, Karina e as madrinhas fizeram bronzeamento artificial. No dia, por sugestão da noiva, as oito se arrumaram juntas em um salão de São Paulo, onde fizeram maquiagem e penteado (400 reais cada pacote). Uma madrinha ainda se tratou com nutricionista e outra se submeteu a lipoaspiração e implante de silicone nos seios, tudo em nome da boa presença ao lado da noiva. "Perdi a barriga e escolhi um vestido roxo com plumas, parecido com um que vi na entrega do Oscar", vibrava a lipada e siliconada Caroline Auricchio.

A empresária Andrea Kaplan, 44, honrada com um lugar no altar no casamento de um primo, encarou sessões num aparelho que promete reduzir flacidez e medidas, fez um tratamento a laser para dar mais viço aos cabelos e injetou Botox nas axilas para não marcar o vestido de 4 500 reais assinado pelo estilista André Lima, entre outros procedimentos. Em três meses, gastou 15 000 reais. "Hoje, a madrinha é quase noiva, e eu não quis fazer feio", justifica. Na clínica da dermatologista Karla Assed, no Rio de Janeiro, cerca de 15% das novas pacientes marcam consulta por causa de casamentos alheios. Os tratamentos mais pedidos são aplicações de Botox no rosto, peeling de cristal para fechar os poros e máscaras com substâncias que alisam a face durante algumas horas. E, quando acabam de assinar os cheques que as tornaram lindas, tratadas e muito bem vestidas, as madrinhas vão comprar seu presente. Aliás, presentão. Como todo mundo sabe, o da madrinha é mais caro.