Assim como a bossa nova, que além de um estilo musical se tornou um estado de espírito de uma época, o tecnobrega de Belém do Pará, mais do que uma música, criou um novo modelo de negócios na era digital.
A novidade anunciada pelo antropólogo musical Hermano Vianna agora é confirmada e desenvolvida pelo advogado Ronaldo Lemos, representante da Creative Commons no Brasil, no livro “Tecnobrega: reinventando o evento da música”.
Em três viagens a Belém encontrei uma cena musical vibrante e diversificada, que não é só tecnobreprodutoga: tem muito merengue, carimbó, guitarrada, rap, funk, rock. São milhares de pessoas trabalhando num a v a s t a c a d e i a d e produção, distribuição e consumo de música popular que ignora gravadoras, lojas de discos, a prefeitur a , o e s t a d o e a União.
O americano Chris Anderson, editor da revista “Wired” e autor do best-seller planetário “A cauda longa” (“The long tail”), referência máxima para o presente das mídias digitais e para os modelos de negócio na internet, esteve em Belém no ano passado, mergulhou na novidade, e em seu novo livro dedicou um capitulo inteiro à revolução do tecnobrega — como modelo de negócios do século XXI.
Entre a selva e o rio, com tecnologia digital barata, estúdios trab a l h a m d i a e no i t e produzindo as músicas que vão animar as rádios, as ruas e as festas. Os discos são promovidos e vendidos no tentacular circuito de camelôs da cidade, ao preço de uma cerveja: o que mais importa é a divulgação.
Onde os artistas, DJs e produtoemerres vão ganhar dinheiro, e muito, é nos shows em bares, clubes e arenas — onde ficam com a parte do leão nas bilheterias, e os compositores recebem seus direitos autorais, quando o Ecad arrecada.
O tecnobrega inovou instituindo a pirataria de si mesmo, como meio barato de popularizar artistas e fazer dinheiro com apresentações ao vivo. O resultado é um estrondoso sucesso local, regional e até nacional, de bandas e artistas originários do tecnobrega, que souberam conquistar milhares de consumidores vendendo a preços acessíveis a música que eles desejavam. Viraram “case” internacional e um modelo de sucesso.