sexta-feira, novembro 21, 2008

Sobre os momentos históricos -Demostenes Torres



Blog Noblat

O petista é vaidoso até para reconhecer a humildade alheia. Foi especialmente de impressionar a falta de modéstia do nosso primeiro escalão na cúpula do G-20. O ministro Celso Amorim apresentou-se peremptório para decretar o fim do G-8, como se irrompera da desgraça de Wall Street nova ordem nas relações do hemisfério norte com a periferia. Já o patrão foi mais cristão e permitiu que a organização dos sete países mais ricos, além da Rússia, pudesse funcionar como clube de amigos, mas rebaixada no organograma de poder do emergente G-20. Ele trouxe o trombone de vara e agora manda na gafieira.

Se deixar por conta do ministro Mantega, a situação está resolvida e o acordo de Doha sai até o final do ano para dissipar qualquer dúvida sobre a nova distribuição do poder mundial. Ainda bem que no andar de cima quem decide não toma conhecimento destas bobagens populistas. O mais grave é que o governo acredita mesmo ter protagonizado um momento histórico de virada de mesa quando o primeiro mundo apenas reservou aos emergentes um lugar na classe econômica.

Não há o que se discutir sobre a propriedade monetária com que o Banco Central brasileiro gerencia a crise financeira mundial. Mas é fato isolado no governo. O Palácio do Planalto deveria aproveitar a crise para criar condição política de fortalecer a disciplina fiscal do Brasil em duas frentes: aprovação de uma Reforma Tributária para melhorar a qualidade da arrecadação e imprimir mais competitividade à economia; redução do gasto público orientado pelo critério da boa governança.

São providências que poderiam ser negociadas no Congresso com o valor de pacto social, já que ninguém apostaria na quebradeira para obter vantagem política. Mas o governo não vai tomar nenhuma medida neste sentido porque agora entrou na fase do exaurimento. Ao contrário, vai se lançar à gastança como forma de enganar os efeitos da crise. A preocupação é muito mais de provisionar meios para a manutenção do poder em 2010 e de celebrar os momentos históricos.

Só gostaria mesmo de saber o que o presidente George W. Bush cochichou no ouvido de Lula antes do brinde de champanhe na reunião do G-20. Foi o que se pode chamar de aparência sarcástica de um sorriso amigo. Já o desprezo de Obama em relação ao grande líder emergente, lembrou aquela menção de Eça de Queirós sobre os ingleses do século XIX "no patrocínio familiar de ser superior para com as nações que não tem duzentos couraçados, um Shakespere, um Bank of England e a instituição do roast-beef." Foi um momento histórico.

 

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)