(1) As derrotas mais importantes nas eleições municipais comprovaram que, do alto do seu prestígio, o presidente Lula não transfere voto. Joguem-se no lixo as teses, há alguns meses tão faladas, de que bastaria querer e, onde fosse, elegeria o poste de sua preferência.
(2) A crise mundial puxou-lhe dois tapetes voadores na passarela eleitoral: as maravilhas do pré-sal e a consagração do PAC, com mãe e tudo. Para os dois projetos, ficou tudo mais difícil. No mínimo, faltará dinheiro e muita coisa terá de ficar para quando der.
(3) Em vez do deslizar de uma economia eleitoralmente vitoriosa, Lula terá agora de pilotar seu navio num mar de incertezas, perspectiva de recessão global, quebra de salários e adiamento de investimentos.
(4) Se tivesse de trocar o ministro da Fazenda, não teria à sua disposição nenhum nome com credibilidade suficiente para a tarefa, nem no PT nem nos partidos que formam a base do seu governo.
(5) Lula não guarda no bolso do colete o sucessor cujo nome possa ser facilmente vendido ao PT e aos partidos de sua base governista. Do ponto de vista eleitoral, o fiel da balança é o saco de gatos que leva a sigla PMDB. E o PMDB sorrirá apenas para quem tiver condições de se tornar governo.
Se as peças mais importantes são essas e se as posições do tabuleiro são essas, o presidente Lula terá escolhas de alto custo pela frente.
Se não abrir mão de seu projeto político-eleitoral de curto prazo, terá de atrair o PMDB para seu jogo. Isso exigirá certa criatividade (digamos assim) no manejo das verbas públicas. No mínimo, terão de ser elásticas e disponíveis para pronta entrega.
A nova argumentação nos arraiais da Fazenda e do Planejamento é a de que a hora é de colocar em movimento políticas contracíclicas e de só voltar a formar superávit primário (parcela da arrecadação para pagamento da dívida) quando o jogo virar. É um discurso que não parece ter nenhuma motivação técnica nem tampouco ideológica. Trata-se de gastar para financiar o projeto eleitoral de 2010, seja lá qual for.
A principal contra-indicação de uma estratégia dessas é seu custo em inflação. E Lula já entendeu o que isso significa do ponto de vista eleitoral. Convenhamos que há limites políticos se a idéia implica inflacionar a economia.
O presidente poderia optar por uma temporada de pausa na vida pública, de maneira a juntar forças para sua volta triunfal em 2014. Mas essa seria uma estratégia personalista de algum risco. Se a atual oposição levar o governo, o PT terá de desocupar cerca de 20 mil postos, aparelhados apenas na administração federal. Pode-se imaginar o impacto que um vazio de tais proporções produziria sobre as finanças do partido. E, na medida em que a máquina estivesse com a atual oposição, o projeto de 2014 também ficaria mais difícil.
Senhoras e senhores, façam suas apostas.