sábado, novembro 29, 2008

Inundações em Santa Catarina O Estado de S. Paulo EDITORIAL

Santa Catarina, em especial as cidades localizadas no Vale do Itajaí, é periodicamente castigada por inundações. Mas as que ela sofre nestes dias são incomparavelmente mais avassaladoras do que qualquer outra, como mostram as trágicas conseqüências registradas até agora das fortes chuvas que caíram naquele Estado. Os números, que crescem a cada dia, dão uma idéia da dimensão da tragédia: uma centena de mortos, dezenas de desaparecidos, cerca de 80 mil desabrigados e seis cidades isoladas total ou parcialmente. Por causa da queda de barreiras, mais de 90 mil pessoas estiveram impedidas de deixar suas casas para procurar abrigo em lugar seguro.

De uma população de 5,9 milhões, 1,5 milhão de catarinenses foram afetados direta ou indiretamente pelas enchentes. Os prejuízos à economia do Vale do Itajaí são calculados em R$ 300 milhões. As empresas exportadoras do Estado já estão sofrendo com os danos causados ao Porto de Itajaí. Segundo a Federação das Indústrias de Santa Catarina, cada dia parado provoca prejuízo de US$ 33,5 milhões. As perdas do setor de turismo são estimadas em R$ 120 milhões só em uma semana.

Por trás desses números estão os pungentes dramas pessoais dos habitantes dos sete municípios onde foi declarado estado de calamidade. Perderam-se não apenas vidas, às vezes famílias inteiras, mas também tudo que se haviam acumulado de bens e propriedades durante a vida inteira até o advento da tragédia. E a região vive em toda a sua intensidade as conseqüências desse tipo de calamidade - falta de água, de alimentos, de abrigo e o risco de doenças pelo contato com a lama e a água suja. As redes de esgoto foram afetadas e toneladas de lixo estão espalhadas por toda parte. Atingidos pelas inundações, muitos hospitais perderam medicamentos e funcionam precariamente. Os saques se multiplicam e, por isso, muitos moradores preferem não abandonar suas residências, apesar das condições precárias de segurança, para não perder o pouco que lhes restou.

A situação só não é pior por causa da solidariedade e da disciplina da grande maioria da população e da ação eficiente da Defesa Civil e das Forças Armadas.O anúncio da edição de uma Medida Provisória pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, liberando R$ 1 bilhão para a recuperação da região afetada e mais R$ 600 milhões para outros Estados também afetados pelas chuvas, embora em menor grau (Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo), deu novo ânimo aos governos e à população. O governador catarinense, Luiz Henrique da Silveira, calcula que só para as obras de recuperação da malha viária estadual e da infra-estrutura da região mais diretamente afetada serão necessários investimentos de R$ 250 milhões. Outros R$ 350 milhões deverão ir para obras nos portos.

Há fortes indicações de que o pior já passou. É hora, portanto, de começar a reconstrução. E, para que ela seja bem feita, é fundamental aprender com os erros. As chuvas caídas nos últimos dias em Santa Catarina ficaram muito acima da média. Esse é um dado incontrolável. Outros dados da realidade, dos quais não se pode fugir, é que a topografia da região mais afetada não ajuda, o que explica a repetição das inundações no Vale do Itajaí. Tragédias semelhantes à que estamos assistindo, embora de proporções menores, ali já ocorreram em 1983 e 1984, para citar apenas os episódios mais graves.

Mas a topografia ingrata e a fatalidade das calamidades naturais não eximem os administradores públicos - pelo contrário - da obrigação de tentar minimizar as suas conseqüências. É o que fazem os governos de países onde os desastres naturais são freqüentes, com a imposição de regras especiais de segurança para as construções e para as comunicações. O número de mortos e desabrigados, assim como o de casas e outros edifícios destruídos por deslizamentos em Santa Catarina, seria com certeza menor, se providências tivessem sido tomadas pelas autoridades para evitar construções em áreas de risco, sejam encostas ou proximidade de rios e córregos. E esta deve ser uma regra geral, aplicada a todas as cidades do País.