sexta-feira, novembro 28, 2008

Celso Ming - A força do consumo -Estadao


O consumo interno forte, quem diria, é neste momento grande trunfo do Brasil no meio dessa crise financeira global.



E quem garante isso é o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, quem por meses a fio fazia advertências contra o consumo excessivamente robusto que, para o Banco Central, vinha provocando inflação de demanda, o mesmo fator que desde abril obrigara o Copom a puxar agressivamente pelos juros.



Ontem, em Goiânia, no encontro com empresários, Meirelles lembrou que as vendas no mercado varejista cresceram 10,3% no período de 12 meses terminado em setembro, último levantamento disponível. E apontou esse dado como vantagem do Brasil em relação aos países asiáticos, "que têm a economia muito baseada na exportação aos Estados Unidos e Europa".



Esta é uma novidade no discurso dos dirigentes do Banco Central. Até agora, realçavam outra classe de vantagens do Brasil em relação a outros países: "A inflação na meta, câmbio flutuante, reservas de US$ 205 bilhões e contas externas positivas."



Meirelles ainda acrescentava dois fatores como pontos importantes a favor do País num mundo prostrado pela crise: o relativo equilíbrio fiscal, graças à formação de um superávit primário superior a 4% do PIB; e a existência de um sistema bancário sadio, que não se aventurara nas operações esquisitas de captação e financiamento que afundaram os bancos dos países ricos.



O consumo forte, acima da capacidade de oferta da economia, não era visto apenas como responsável pela alta de preços, mas também pela redução do superávit comercial (exportações menos importações), na medida em que empurrava a economia para as importações.



Mas Meirelles o enxerga agora como elemento que joga a favor. O raciocínio é o de que a economia global se encaminha para a recessão, situação que tende a derrubar as exportações e a reduzir a entrada de investimentos estrangeiros diretos (IED) nos países emergentes.



Nessas condições, sofrerão menos as economias, como a do Brasil, que estão mais apoiadas no consumo interno. Assim se vê que o que era ruim trocou de sinal e virou bom.



No dia 6, quando participou da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o presidente Lula pareceu pressionar na contramão do que fazia o Banco Central. Encorajou a população a não adiar a realização dos sonhos de consumo. "É preciso perder o medo de comprar uma casinha, de ter um carro, de trocar a televisão, de comprar o primeiro sutiã", disse. Assim, por motivos provavelmente não coincidentes, Meirelles passou a assobiar a mesma música.



Mas ninguém se iluda. A maneira mais simpática com que Meirelles e o Banco Central estão encarando agora "a demanda robusta" não aponta para mudança relevante na política monetária (política de juros). Se a prudência do consumidor trabalha para uma certa retração do consumo, de outro lado, a corda da inflação passou a ser esticada por outro fator, o do câmbio.



A alta do dólar encarece não só as importações, mas também as mercadorias produzidas internamente cotadas em moeda estrangeira, como soja, petróleo e minérios. E, nisso, o Banco Central poderá ver motivos para não derrubar os juros.



CONFIRA



Estranho - Apesar de ser uma "operação trivial", como sustenta a diretoria da Petrobrás, o levantamento de R$ 2 bilhões em financiamentos da Caixa Econômica Federal não deixa de ser uma concorrência desleal de uma empresa gigantesca aos negócios mais miúdos.



Essa operação aconteceu num momento de escassez de crédito no mercado interno.



A oposição está sugerindo que aí há mais do que uma simples operação de crédito, que há desvio de recursos para objetivos políticos. É uma afirmação grave que vem reforçada pelo grande aumento das despesas operacionais da Petrobrás.