O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, foi rápido e rigoroso: na quarta-feira leu errado o nome do presidente do Senado numa cerimônia no Palácio do Planalto e, no dia seguinte, a funcionária responsável pelo discurso estava devidamente afastada de suas funções no cerimonial da Casa.
O crime da moça: acrescentou um inexistente "José" antes de Garibaldi Alves, que aproveitou a deixa para uma piada e fez a platéia rir da presumida gafe.
Chinaglia achou gravíssimo: "Não posso minimizar (o erro) na medida em que o próprio presidente do Senado se incomodou, eu nem tinha percebido, mas devo explicações a ele".
Para ventura do bom senso, Garibaldi preferiu não comentar a menção honrosa.
Talvez porque tivesse se sentido mais honrado se o presidente da Câmara não o deixasse apanhar sozinho por causa da resistência do Senado em cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre nepotismo.
Por imposição constitucional, há dois meses o STF mandou que os Poderes da República demitissem os parentes de agentes públicos contratados em cargos de confiança, até a terceira geração.
Arlindo Chinaglia disse que a Câmara há muito proíbe a prática e que se parentes houvesse de forma irregular nos gabinetes, os próprios deputados deveriam tomar a iniciativa de demitir seus familiares.
Empenhou sua palavra na lisura dos parlamentares, mas não tomou a causa a pulso, não exibiu levantamentos, deixou as coisas correrem por si.
Enquanto isso, Garibaldi sentado na berlinda pagava o preço de uma decisão estúpida da Mesa Diretora - presidida por ele, diga-se - de abrir uma exceção à decisão judicial para os parentes contratados antes do início do mandato do senador ao qual são ligados.
Passou-se a discutir a "brecha", em detrimento da cobrança sobre o todo. O Senado desde o anúncio da decisão vem tratando do tema. Lá houve prazo para as demissões e, bem ou mal, empurrado e na pressão, apresentou a exoneração de 86 parentes de senadores.
Quantos são os demitidos na Câmara? Se poucos, muitos ou nenhum, ninguém ficou sabendo. E na administração federal saíram quantos? As assembléias legislativas, as câmaras municipais, os governos dos Estados, o Judiciário, estão todos devendo a apresentação do balanço das providências.
Se foram tomadas, merecem divulgação. Se não foram, o poder público, na ilegalidade, está à mercê do Ministério Público.
Não foi apenas Chinaglia quem tratou a proibição do nepotismo como assunto sem maior importância. Mas só ele deu de público um exemplo perfeito sobre proporção entre crimes e castigos, ao afastar a servidora cujo único delito talvez tenha sido pensar em Giuseppe Garibaldi na hora de escrever o nome do Garibaldi sem José.
Torcida organizada
O alto comando do tucanato está em clima de fervorosa reza pela vitória de Fernando Gabeira no Rio. Se ganhar, terá os governos de São Paulo e Minas à disposição.
José Serra avisa que se "muda" um mês para o Rio se for preciso e Aécio Neves oferece toda a equipe para, se eleito, Gabeira usar como quiser.
E por que tanto mimo? Porque seria o primeiro resultado importante do PSDB em muitos anos no Rio, onde o partido entrou em acelerada decadência e hoje é presidido por Zito, um político da Baixada Fluminense cheio de votos e processos.
Na avaliação da cúpula do partido, entrar assim na batalha da sucessão seria um risco. Principalmente porque ali o desempenho do PSDB nas duas últimas eleições presidenciais foi pífio e Lula investiu pesado na aliança com o governador Sérgio Cabral.
Mesmo saco
Saiu de graça a penalidade em forma de multa aplicada pela Justiça Eleitoral à campanha do prefeito Gilberto Kassab, tão óbvio foi o uso da máquina no episódio da transferência do cheque de R$ 198 milhões ao governo do Estado, para obras do Metrô.
Ficou tudo ainda mais barato (em todos os sentidos) em virtude da perda de autoridade moral do PT para acusar alguém de usar a administração pública para fins eleitorais.
A luta continua
Se Marta Suplicy tiver cumprido a ameaça de partir com tudo para cima de Gilberto Kassab no debate de ontem à noite na TV Globo, não terá sido na esperança de virar o jogo na última hora.
A agressividade do segundo turno antecipa o tom da oposição em território paulista, amostra grátis do que enfrentará o próximo presidente da República se o eleito for adversário do PT.
Amarga ilusão
Para que o apoio deste ou daquele partido ou governante influenciasse no voto, seria preciso que os políticos estivessem em alta junto ao eleitorado.
Como não estão, mas se acham todos verdadeiros guias geniais dos povos, dão à regra o caráter de exceção e seguem acreditando no poder da transferência de votos.