29/9/2008 |
O balanço de quase seis anos de uma diplomacia comercial defendida pelo governo como inovadora não é animador. Quando se analisam os números do comércio exterior brasileiro, há um crescimento importante, mas é uma evolução muito derivada do ciclo histórico de expansão mundial verificado no período - e que acaba de se esgotar com a crise financeira global iniciada em Wall Street. A participação do país no comércio internacional cresceu de 0,8%, em 2002, para 1,14%, no ano passado, à primeira vista uma estatística que favorece a atual diplomacia. Não se deve esquecer, porém, que o boom mundial, cuja centelha de ignição foi a disparada do PIB chinês a partir da reciclagem do modelo comunista num capitalismo selvagem construído sobre as bases da antiga ditadura maoísta, privilegiou o perfil das exportações brasileiras. O crescente consumo de matérias-primas na Ásia fez disparar as cotações das commodities, entre elas soja e minério de ferro, produtos-chave na pauta de exportações do Brasil. Veio daí parte ponderável dos grandes superávits comerciais conseguidos a partir da grande desvalorização do real entre 2002 e 2003. Como o ciclo de expansão mundial foi acompanhado por grande liquidez nos mercados, esses superávits, mais a entrada de capitais para aplicações em bolsa e os investimentos diretos, permitiram que o Brasil conseguisse uma posição invejável no balanço de pagamentos: dívida externa contabilmente paga e reservas acima de US$200 bilhões, importante amortecedor das turbulências causadas pela crise. A grande falha nessa diplomacia é imaginar - ainda sob influência de ideologias das décadas de 60 e 70, quando o mundo era bipolar - que o eixo do comércio exterior deve privilegiar terceiros mercados. Por causa dessa visão, e da influência da volta do nacional-populismo ao continente, o Itamaraty desprezou a possibilidade de uma negociação frutífera, bilateral, entre o Mercosul e os Estados Unidos, em torno da Alca, e depositou todas as fichas na Rodada de Doha. A rigor, deveria ter trabalhado em todas as frentes. Frustrado Doha - como previsto -, o país precisa recuperar o terreno perdido em busca de acordos bilaterais. A crise, no entanto, joga contra. Os tempos são de incertezas, desaquecimento mundial e da volta do fantasma do protecionismo. E também de queda nas cotações das commodities. Pode-se falar em meia década perdida. |