Recife Favorito é acusado de abuso de poder

A maré vermelha do Recife

O petista João da Costa teve a candidatura
impugnada por usar a máquina municipal na
campanha. Ainda assim, continua como favorito

José Edward, do Recife

Alexandre Severo/JC Imagem/AE

"JOÃO É JOÃO"João da Costa chegou ao topo das pesquisas graças à popularidade do prefeito João Paulo, seu padrinho político

O petista João da Costa começou a semana passada como candidato virtualmente eleito em primeiro turno para a prefeitura do Recife. Terminou com sua candidatura cassada pela Justiça Eleitoral. Principal secretário do atual prefeito, o também petista João Paulo, João da Costa foi condenado por usar a máquina municipal na campanha. Uma perícia da Polícia Federal comprovou que os computadores da secretaria de Educação haviam sido utilizados para divulgar sua propaganda eleitoral. "Os petistas transformaram esse órgão público em comitê de campanha", diz a promotora eleitoral Andréa Nunes, autora da ação que impugnou João da Costa. Ele recorreu do julgamento aos tribunais eleitorais. Embora o processo seja bem fundamentado, há dúvidas de que o veredicto de primeira instância seja mantido. Ainda que isso ocorra, a decisão não impedirá que João da Costa dispute o primeiro turno em 5 de outubro, porque um processo de impugnação demora muito para ser concluído. Mas o revés do petista na Justiça Eleitoral está sendo explorado à exaustão no horário político gratuito.

A estratégia dos adversários pode, no entanto, ter efeito contrário. "Há a possibilidade de João da Costa sair como vítima dessa confusão e subir ainda mais nas pesquisas", diz o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco. Mesmo que a oposição tenha êxito e force a realização de um segundo turno, nada indica que o petista perderá a condição de favorito. O levantamento mais recente do Datafolha mostrou João da Costa com 48% das intenções de voto, 5 pontos acima da soma de seus rivais. Entre eles estão o ex-governador Mendonça Filho (DEM), Carlos Cadoca (PSC), que já foi o deputado federal mais votado de Pernambuco, e Raul Henry (PMDB), afilhado do senador Jarbas Vasconcelos, duas vezes governador do estado.

João da Costa chegou à liderança nas pesquisas graças à bênção de um duo com altíssima popularidade no estado: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, principalmente, o prefeito João Paulo. Costa sempre surfou no sucesso do xará. Ele ingressou na vida pública como assessor de João Paulo – que, uma vez prefeito, o nomeou para a coordenação do orçamento participativo do município, uma espécie de máquina eleitoral petista. No cargo, Costa foi eleito em 2006 o deputado estadual com a maior votação no Recife. João Paulo o manteve na prefeitura para lançá-lo à sua própria sucessão e conseguir, assim, um "terceiro mandato" no Recife. A partir de 2006, Costa passou a comandar também as áreas de obras e de desenvolvimento urbano e ambiental de uma administração que, graças a programas assistencialistas e a recursos federais, tem mais de 80% de aprovação. Não foi por outro motivo que o candidato adotou o slogan "João é João".

Sua provável vitória significará um enorme fortalecimento de João Paulo na política pernambucana. O atual prefeito já esmagou todos os seus adversários no PT. Entre eles, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, que era o cacique do partido no estado. "Caso consiga eleger seu braço-direito, João Paulo se consolidará como a maior liderança do PT em Pernambuco, com cacife para disputar o governo do estado em 2010", afirma o sociólogo Antônio Lavareda, da MCI Estratégia. João Paulo não consegue esconder suas ambições. Desde que João da Costa assumiu a liderança nas pesquisas da capital, o prefeito passou a se envolver também nas campanhas do interior. Dá-se como certo que, se a eleição para governador fosse hoje, João Paulo venceria o governador Eduardo Campos, que pretende concorrer à reeleição. Por isso mesmo, Campos pediu socorro a Lula. Ele quer que o presidente convença João Paulo a desistir de disputar o governo estadual. Lula prometeu atendê-lo. Em política, contudo, promessa nunca é dívida.