sábado, setembro 27, 2008

O Brasil começa a levar a sério a força eólica

A força que vem do vento

Com a construção de catorze novos parques eólicos 
no Ceará, o Brasil começa a levar a sério a produção
de eletricidade a partir dessa tecnologia limpa


Duda Teixeira

David Mcnew/Getty Images
Futuro Turbinas em Palm Springs, na Califórnia: o governo americano quer que usinas eólicas forneçam
20% da eletricidade em 2030

Se a economia brasileira crescer 5,5% neste ano, como previu o ministro da Fazenda há duas semanas, será preciso adicionar 3.500 megawatts à capacidade energética do país – ou corre-se o risco de um novo apagão. Trata-se de um salto de bom tamanho, um acréscimo de 4% na produção atual. Em outras palavras, o Brasil precisa de toda a eletricidade que conseguir obter. Há, nessa urgência, uma oportunidade para fontes alternativas de energia, como a eólica, que até recentemente eram vistas como mera curiosidade no país. Neste mês, uma empresa americana, a Econergy, inaugurou o primeiro de uma leva de catorze parques eólicos que começarão a operar no Ceará até o fim de 2009. Com localização na Praia das Fontes, próximo a Fortaleza, a usina terá 32 turbinas de vento e capacidade para abastecer uma cidade com 90 000 casas e 200 000 pessoas. Quando todos esses parques terminarem de ser construídos, o Ceará terá à sua disposição 500 megawatts de energia providos pelo vento. Será o estado com a maior capacidade, ultrapassando o Rio Grande do Sul, que hoje produz 68% da energia eólica nacional.

Isso representará apenas uma gota d’água no oceano da necessidade energética brasileira – mas o aproveitamento da força do vento aponta numa direção para a qual o mundo todo está olhando, a da energia limpa. O potencial eólico brasileiro medido pelo Ministério de Minas e Energia é de 143 000 megawatts – um terço acima da produção atual de energia elétrica. Mas esse número está exagerado. Se descontarmos as reservas florestais e as cidades, onde não se poderiam erguer turbinas, chega-se a 30 000 megawatts – o equivalente a duas Itaipus. O Brasil tem hoje 218 megawatts de capacidade instalada em parques eólicos no Ceará, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. O maior deles está no município gaúcho de Osório, que produz 150 megawatts. Não é sem razão que as turbinas de vento são a fonte energética com defensores mais empolgados. A tecnologia eólica causa pouco dano ao ambiente e se utiliza de um recurso, o vento, abundante e gratuito. Seu defeito é o preço. A eletricidade dos cata-ventos gigantes custa o dobro da proveniente de hidrelétrica.

Já foi pior, pois o custo caiu pela metade na última década e hoje se aproxima do das termoelétricas. "O preço do petróleo tende a subir, enquanto o da energia eólica deve continuar encolhendo. Em menos de oito anos, essas duas curvas certamente se cruzarão", diz Laura Porto, diretora do departamento de desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia, em Brasília. O preço caiu por várias razões. Uma delas é a disposição de muitos governos em subsidiar essa fonte de energia limpa e que não depende dos humores dos produtores de petróleo. Também contribuiu o avanço tecnológico, responsável por turbinas mais eficientes e fáceis de montar. Antes, as peças eram emprestadas da indústria náutica. Hoje, são inspiradas no design dos aviões. Utilizam-se ligas de metais que permitem pás mais compridas e, assim, capazes de aproveitar melhor o vento. As três lâminas que integram uma turbina distorcem seu formato para permitir que o vento escape quando está girando rápido demais. Também conseguem se movimentar mesmo quando o vento é menos intenso. Se há cinco anos uma turbina ficava parada 15% do tempo, atualmente esse índice está em torno de 3%.

No mundo, a energia eólica cresce a taxas de 26% ao ano e causa empolgação crescente entre políticos. No Brasil, ganhou fôlego com o Proinfa, programa de incentivo governamental que entrou em operação em 2004. O Proinfa determinou um preço fixo a ser pago pela energia eólica e fechou contrato com as empresas privadas interessadas, que se encarregaram de construir os parques. Não foi feito um leilão, em que as empresas disputariam os contratos entre si e ganharia aquela que oferecesse o preço mais baixo por megawatt para o consumidor. A justificativa para tal atitude é que não havia um mercado para esse tipo de energia no Brasil e foi preciso criá-lo. "É uma aposta que serve como um laboratório da energia eólica", diz o engenheiro Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), uma consultoria do Rio de Janeiro. Quatro anos depois de iniciado o programa, o Brasil possui uma fábrica de turbinas e outra está entrando em operação. Já existem sete empresas que constroem as torres e duas que fabricam as pás. O futuro agora depende da necessidade energética brasileira. Uma coisa é certa: vento é o que não falta.