terça-feira, setembro 30, 2008

Carlos Alberto Sardenberg

Não é o banco que quebra, são os seus clientes

Postado por Carlos Alberto Sardenberg em 30 de Setembro de 2008 às 09:41

A tese segundo a qual o “governo não deve colocar dinheiro para salvar banqueiros” – que circula hoje em todo o mundo – só faria algum sentido se fosse possível isolar os bancos do restante da sociedade e da economia. Não é possível.

Se o governo não coloca dinheiro para resgatar bancos e o sistema financeiro, o que acontece? Os bancos quebram.

O que significa quebrar um banco? Significa que seus ativos não cobrem seus passivos. Você deposita dinheiro em um banco, isso é passivo do banco. É o que o banco lhe deve. Na outra ponta, o banco pegou o seu dinheiro e emprestou para alguém comprar uma casa. Esse empréstimo é um ativo do banco, o que ele tem a receber.

Se o banco não recebe esse empréstimo, ou seja, não consegue realizar esse ativo – porque o mutuário se tornou inadimplente – qual a consequência óbvia? Não terá como devolver o dinheiro do depositante.

Multiplique por milhões de operações de depósitos e empréstimos. Multiplique isso pelos milhões de correntistas, depositantes e aplicadores no sistema financeiro, que são pessoas e empresas – e terá uma idéia de quem são as vítimas de uma quebra de banco.

Isso é tão óbvio que é difícil entender como as pessoas não entendem e continuam a dizer que o governo não pode dar dinheiro aos banqueiros. Não é aos banqueiros, é ao sistema financeiro, aos bancos e seus clientes, correntistas, depositantes, aplicadores.

Ocorreram várias situações assim. A última nos EUA foi a quase quebra do Wachovia, um bancão de varejo, desses com milhares de agências e milhões de clientes. Quando terminou a sexta passada, o pessoal fez as contas e verificou que o banco não tinha dinheiro para abrir as portas na segunda. Simples assim: se você chegasse com um cheque para descontar, uma duplicata a receber, sacar a poupança, pegar o rendimento mensal de seu fundo de pensão – não haveria dinheiro.

Autoridades das agências econômicas organizaram então a venda do Wachovia para o Citi, com dinheiro público, com dinheiro dos contribuintes emprestado ao Citi.

Suponha que prevalecesse a tese de que não se pode salvar um banco. Os clientes chegariam na segunda e as portas das agências estariam fechadas. Leriam um aviso: quebramos, estamos em falência, contrate um advogado e entre na fila dos credores. Sorry.

Finalmente, essas intervenções não salvam os banqueiros, ou seja, os acionistas dos bancos. Essas ações viram pó, o banqueiro perde o banco.

Ás vezes, eu fico pensando: talvez, uma vez que fosse, numa crise dessas, se adotasse a tese de que não se deve salvar bancos. Haveria uma quebradeira, não de bancos apenas, mas de todos os seus clientes, que seria exemplar.

Mas seria um sacrifício enorme, uma perda de riqueza brutal, só para provar que tal tese é um equívoco brutal.

Próximo passo pode ser um corte mundial de juros

Postado por Carlos Alberto Sardenberg em 30 de Setembro de 2008 às 09:15

Um corte global dos juros coordenado entre os principais bancos centrais do mundo – é disso que se fala no momento nos mercados mundiais. Tem lógica: na falta de um amplo programa de resgate do sistema financeiro, sobram aos BCs as armas clássicas: mexer na taxa de juros e oferecer liquidez (empréstimos) ao mercado. Os BCs já estão oferecendo montanhas de dinheiro. Falta a queda dos juros.

Será?

O BC europeu tem reunião marcada para esta quinta-feira – mas até aqui o BC europeu, mais conservador, dizia que não podia reduzir juros dada a inflação elevada. Na circunstância atual, porém, combater a crise financeira e a ameaça de recessão é o mais importante.

O Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) - que já reduziu os juros algumas vezes desde o início da crise - tem sua próxima reunião marcada para os dias 28 e 29 de outubro, muito distante. Mas, nas emergências, o Fed recorre às reuniões extraordinárias.

A ver.

Mercados esperam por resgate

Postado por Carlos Alberto Sardenberg em 30 de Setembro de 2008 às 08:18

A sensação hoje é mais ou menos a seguinte nos mercados internacionais: a situação é tão grave que não é possível que eles não façam alguma coisa.

‘Eles’ são os deputados e senadores americanos, mas também as lideranças políticas e econômicas dos EUA, incluindo os dois candidatos presidenciais. É verdade que, até agora, cometeram mais erros que acertos.

Mas, de novo, a sensação é essa: não é possível que perseverem em um erro tão fundamental como foi esse de derrubar o plano de resgate do sistema financeiro.

Em resumo, acreditam (ou torcem, ou esperam, ou rezam) que o Congresso ainda aprovará o plano nesta semana.