O Barack Obama que foi sagrado ontem candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos não é nem o senador semidesconhecido que se lançou às primárias no início do ano nem o semideus em que se transformou a partir de suas primeiras vitórias contra Hillary Clinton. Se o presidente Lula fosse comentarista de política internacional, certamente diria que jamais neste planeta um candidato presidencial foi tão deificado como Obama. Deificado, claro, pela mídia e pelo público democrata/independente, que os republicanos não endeusam adversários. Tão endeusado que os Clinton, marido e mulher, queixaram-se de que a mídia estava favorecendo Obama em detrimento de Hillary, queixa que não costuma ser feita por quem é a quintessência do establishment democrata. O paradoxal é que o endeusamento cessou a partir do instante em que Obama ganhou as primárias, quando era de esperar o contrário. Começou, então, o previsível processo de demolição, a cargo dos republicanos. Nada de especial. Especial, sim, é o semear de dúvidas entre os próprios democratas, como se o "yes, we can" dos primórdios da campanha tivesse se transformado em "can we?" ou, pior ainda, em "no, we can"t". Claro que o "sim, podemos" era tão sedutor como oco. Poder, todos podemos tudo, em tese. O problema de Obama é definir o que significa o seu "podemos". Tantas foram as dúvidas semeadas, que o melhor resumo para o Obama que sai da convenção foi feito por Gerald Baker no "Times" de Londres: "Cancelem a coroação. Devolvam as medalhas comemorativas. Ponham as camisetas "yes, we can" à venda no e-Bay; a histórica procissão de Barack Obama à Presidência americana foi rudemente interrompida". Obama, claro, pode ganhar, mas já não será uma coroação. |