MENINO DE LUGAR NENHUM, de David Mitchell (tradução de Daniel Pellizzari; Companhia das Letras; 470 páginas; 58 reais) A única ressalva que se pode fazer a Menino de Lugar Nenhum é que se trata do mais convencional entre os romances de David Mitchell. Enquanto seus livros anteriores (Ghostwritten, Number9Dream e Cloud Atlas)eram ambientados no Japão ou nos Mares do Sul, e tinham fantasmas, habitantes do futuro e aventureiros do século XIX como narradores, esta é apenas uma história sobre as agruras da infância num vilarejo inglês. Mas que importa a ressalva, diante de um romance tão cheio de graça e tão perfeito em capturar a experiência de um menino de 13 anos, no ano de 1982? Primeiro livro de Mitchell a sair no Brasil, Menino de Lugar Nenhum é um luminoso cartão de visita para esse que vai se firmando como o mais talentoso entre os jovens escritores britânicos. Leia trecho.
Receber o bilhete azul, ser chutado, ser mandado para o olho da rua, andar na prancha: os funcionários da agência de publicidade na qual se passa a ação de E Nós Chegamos ao Fim, elogiado romance de estréia do americano Joshua Ferris, têm um vasto repertório de expressões para definir a ameaça que paira sobre eles: a demissão. Duramente atingida pelo estouro da bolha da internet, na virada do século, a agência vai descartando os seus funcionários – e aqueles que ficam não entendem a natureza do trabalho que lhes restou, uma campanha de combate ao câncer de mama. A insegurança desse instável ambiente de trabalho é tratada por Ferris com impiedosa verve satírica. Leia trecho.
DISCO
MUSIC HOLE, Camille (EMI) A francesa Camille Dalmais, 30 anos, tem uma extensão vocal privilegiada, que lhe permite trafegar entre o rock, a world music e a música erudita. Colaborou com a banda Nouvelle Vague, que vertia sucessos do punk e da new wave para a batida da bossa nova, e o grupo brasileiro Barbatuques, que mistura canto e efeitos percussivos. Seu terceiro disco de estúdio, Music Hole, é quase todo em inglês. Em certos momentos, como Cats and Dogs, o experimentalismo predomina. Mas não há como resistir à sua imitação de Mariah Carey – com os trinadinhos irritantes da cantora americana – em Money Note.
DVDs STOP-LOSS (Estados Unidos, 2008. Paramount) Depois de mais de uma centena de missões cumpridas no Iraque, o sargento Brandon (Ryan Phillippe) e vários de seus companheiros voltam para sua cidadezinha no Texas. Todos enfrentarão terríveis dificuldades em se ajustar, protagonizando episódios de violência, embriagando-se ou caindo na apatia. Esse quadro se agrava quando os que deveriam permanecer em licença recebem a notícia de que serão de novo despachados para o deserto – stop-lossé como se chama a reconvocação compulsória de soldados voluntários. A diretora Kimberly Peirce mostra aqui a sensibilidade que já destacara seu trabalho anterior, Meninos Não Choram: um olhar apurado para o interior proletário americano.
FABRICANDO TOM ZÉ (Brasil, 2006. Spectra Nova) Anos atrás, o cineasta Décio Matos Jr. filmava um documentário sobre artistas brasileiros que faziam mais sucesso no exterior do que em seu próprio país. O tropicalista Tom Zé era um dos entrevistados. A trajetória do compositor baiano impressionou tanto Matos que seu projeto seguinte foi só sobre ele. Fabricando Tom Zé acompanha uma turnê européia do cantor em 2005 e traz depoimentos de Gilberto Gil e Caetano Veloso, além do cantor escocês David Byrne. Porém, nenhum deles ofusca o próprio Tom Zé, que num dos melhores momentos do documentário passa uma carraspana no técnico de som suíço que ousou desrespeitá-lo.
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