O Estado de S. Paulo |
25/7/2008 |
A atitude agressiva do Banco Central (BC) no combate à inflação, como transpareceu da última reunião do Copom (alta dos juros de 0,75 ponto porcentual), tem a ver com a agenda política do País. O presidente Lula quer chegar às eleições presidenciais de 2010 sem passivos nessa área. Como é praticamente impossível empurrar a inflação para a meta ainda neste ano, a decisão foi tratar de mostrar serviço já a partir do segundo semestre de 2009. Quando o Copom comunica que o objetivo é “promover tempestivamente a convergência da inflação para a meta”, entenda-se o esse “tempestivamente” como necessidade de obter resultados “em tempo oportuno”. Essa posição do BC está firmemente escorada na determinação do presidente Lula. Ele está no grupo ainda pequeno de políticos brasileiros que entendeu o tamanho do estrago que a inflação é capaz de provocar. Desse ponto de vista, inflação na meta dá mais voto do que mais emprego. E o contrário é igualmente verdadeiro: inflação descontrolada tira mais voto do que emprego em retração. Os adversários da ortodoxia não têm sucesso porque esbarram na blindagem à política do BC providenciada por Lula. O problema é que o governo não quer levar seu ponto de vista às últimas conseqüências. Se fosse mesmo para combater as causas da inflação, teria de conduzir uma política fiscal mais firme, ou seja, teria de reduzir impiedosamente as despesas públicas para que a atual chuva de pagamentos do governo não aumentasse o consumo muito acima da capacidade de oferta da economia, como está acontecendo. Mas o político Lula prefere deixar para o BC a tarefa ingrata de combater quase sozinho a escalada dos preços. Só não está inteiramente sozinho porque a valorização do real (dólar barato em reais) está contribuindo não só para conter os preços dos importados, mas também os dos produtos de exportação largamente consumidos internamente, como carne, milho, soja e café. Uma das objeções à escalada dos juros tal como colocada em marcha pelo BC é a de que a inflação brasileira tem como causa principal a alta dos alimentos, que é conduzida pelas bolsas internacionais de mercadorias. Nessas condições, chega como fator de custos que não pode ser revertido por reduções mais fortes do volume de dinheiro na economia (juros mais altos). A resposta a essa objeção é a de que o BC não tem a pretensão de matar a inflação de custos. Quer apenas combater a de demanda, provocada pelo consumo que corre acima da capacidade de oferta da economia. Este não é fator de pouca importância no processo. Basta conferir o ritmo da alta dos preços dos serviços. Outra objeção é a de que os juros altos sepultam o crescimento. Este é um engano. A falta de crescimento não é conseqüência dos juros altos, mas do baixo nível de poupança no Brasil, como têm observado o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore e o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Apenas para comparar, os chineses poupam cerca de 45% do que produzem; os brasileiros, 17%. Ontem, o comportamento dos juros no mercado futuro mostrou que o BC recobra credibilidade. Os juros de curto prazo dispararam, mas os de longo prazo caíram.
Confira O motivo não conta - Num dia, a Bolsa cai porque os juros estão em alta; no outro, porque a inflação continua muito forte; e, no outro, caiu porque caiu. Em julho (até ontem), a Bovespa perdeu 11,7%. Com as duas ações mais negociadas foi assim: Petrobrás PN despencou 25,3% e Vale PN, 20,3%. Desempenho ruim é uma constante no mercado de ações de países emergentes, logo depois que obtiveram o grau de investimento. Mas a temporada de baixa na Bovespa coincide com fatores negativos, como o fraco desempenho da economia dos países ricos e o tombo dos preços das commodities. |