segunda-feira, junho 23, 2008

Como a inflação está tirando renda dos mais pobres

por Alvaro Gribel -
Análise

Quando se diz que a inflação ataca principalmente os mais pobres, muita gente não acredita. Há a visão de que é melhor ter um pouco mais de crescimento, com os preços ao mesmo tempo subindo mais.

O mal pode ser menor para as classes média e alta, que podem se defender do aumento dos preços por meio de aplicações financeiras. O que os números mostram é que quanto menor é a renda do trabalhador, maior é o estrago causado pelo aumento dos preços, que está focado principalmente em alimentos básicos.

Nos últimos 12 meses, a variação do preço dos alimentos medida pelo IPCA (que cobre gastos de famílias entre 1 e 40 salários mínimos) foi de 17%. Já a variação feita pelo INPC (que considera apenas o consumo de famílias entre 1 e 6 salários) foi mais alta: 19%. Seguindo a mesma linha, o custo de vida para quem ganha apenas 1 salário mínimo tende a ser ainda maior.

Quando se olha para a variação de preços da cesta básica, que inclui apenas 13 dos mais de 160 alimentos que são medidos pelo IPCA, percebe-se que o aumento é assustador: no período de 12 meses, a alta foi de 25% em São Paulo, 42% em Belo Horizonte e 50% em Fortaleza. A cesta básica cobre alimentos que fazem parte da alimentação diária das pessoas, como carne, arroz, feijão, pão e óleo.

"Quanto mais básico o índice, portanto, mais inflação ele mostra, pois não apenas o item alimentação está puxando a inflação, como, dentro de alimentação, são os produtos mais básicos, e portanto com maior peso na cesta dos mais pobres, os que mais aumentaram preço", mostra um relatório do Banco Itaú.

Vejam no gráfico abaixo, como a inflação em alimentos básicos subiu muito mais do que em índices que cobrem uma cesta maior, como o caso do IPCA e do INPC. É dentro desse cenário que o governo precisa decidir se quer ou não ajudar o Banco Central no controle dos preços, elevando o superávit primário e cortando gastos.