sábado, maio 31, 2008

VEJA Carta ao leitor

O ovo do dragão
A primeira capa de VEJA sobre inflação é de 1972 (à esq.), a última, de 2002: de olho no monstro

Em seus 40 anos, a ser completados em setembro, VEJA manteve sempre um olhar vigilante sobre uma silenciosa praga destruidora de riqueza chamada inflação. Ilustrada por uma cédula decalcada em um balão, a inflação estreou na capa da revista em maio de 1972, quando o índice oficial, então medido pela Fundação Getulio Vargas em apenas um estado, a extinta Guanabara, hoje Rio de Janeiro, apontava 18,1% ao ano. Sua última aparição na capa da revista deu-se em dezembro de 2002. Já medida nacionalmente pelo IBGE e representada por um dragão, a inflação anual chegara a 10%. Nocauteada em 1994 pelo engenhoso Plano Real, sua volta levou VEJA a alertar: "Como os gigantes, que também nascem pequenos, o dragão da inflação, especialmente o da espécie brasileira, sai do ovo cuspindo um foguinho brando e com uma carinha inocente. Logo, porém, ele se transforma num monstro incontrolável". Nos trinta anos que se passaram entre a reportagem de 1972 e a de 2002, a inflação acumulada no Brasil chegou à cifra cósmica de 134.000.000.000.000% e foi tema de capa da revista mais 32 vezes.

Por ter sido detonada pelo disparo no preço dos alimentos em todo o mundo, ela ressurge agora no cenário mundial e brasileiro com o nome de "agrinflação". Uma reportagem da presente edição de VEJA mostra que a inflação já reapareceu outras vezes no passado com diferentes nomes e disfarces. O de agora é se mostrar como uma "inflação importada", imune, portanto, às armas que realmente funcionam contra ela: o corte drástico de gastos públicos ou o aumento dos juros pelo Banco Central – ou a combinação de ambos. Se caírem no conto da "inflação importada", as autoridades abrirão caminho para a alta generalizada e constante de preços, com a erosão do poder de compra da moeda e o conseqüente empobrecimento geral do país, em especial das pessoas na base da pirâmide social.

Os brasileiros com menos de 20 anos conhecem essa praga apenas por ouvir falar dela. Mas a inflação na economia brasileira foi o equivalente dos tsunamis, terremotos e erupções vulcânicas na natureza. Ela destrói riquezas, desorganiza a vida e espalha desgraças. Por essa razão, é preciso agora a mesma coragem que o Banco Central demonstrou em 2003 para impedir que o "foguinho brando" da inflação se torne um incêndio provocado por um "monstro incontrolável".