domingo, maio 25, 2008

Uma cautela muito apropriada

Segundo o noticiário do nosso Caderno de Economia de quinta-feira, o presidente Lula decidiu "dar um tempo" antes de enviar ao Congresso o projeto de criação do Fundo Soberano. Uma fonte do governo, ouvida por nossos repórteres, dizia que "talvez a hora de criação desse mecanismo não seja esta e se tenha de esperar um pouco mais". Com o que estamos muito de acordo.

O presidente quer que o ministro Mantega explique melhor os prós e os contras desse instrumento aos líderes dos partidos aliados e também aos empresários.

De fato, o fulcro principal da maior parte das críticas, partidas de muitos economistas e analistas de mercado, à proposta de criação do Fundo repousava, justamente, na falta de clareza tanto sobre sua finalidade como sobre a procedência dos recursos para alimentá-lo.

Tudo indica que houve vozes no governo alertando o presidente a respeito das inconveniências e dos problemas que esse fundo acarretaria, além das expectativas equivocadas que poderia gerar no mercado, entre as quais a de que o objetivo não confessado seria o de comprar dólares na frente interna para sustentar, ou elevar, a cotação da moeda norte-americana, estimulando com isso as exportações e desestimulando as importações.

Ora, de um lado, isso já vem sendo feito pelo próprio Banco Central, em certa medida. De outro lado, o encarecimento da moeda norte-americana, nessa fase em que a inflação bate às portas de maneira ominosa - segundo todos os indicadores recentemente divulgados -, poderia dar um sinal extremamente perigoso, na opinião de muitos observadores, uma vez que a baixa cotação do dólar tem sido um fator não desprezível na contenção das pressões de alta dos preços internos. Assim, na verdade, o sinal dado pela criação do Fundo seria o oposto do que se precisa no momento, no que diz respeito ao problema dos preços.

Na verdade, conforme já temos dito aqui inúmeras vezes, o melhor sinal que as autoridades poderiam propiciar, neste momento, seja com relação ao problema da inflação, seja no que se refere à continuidade da política econômica, seria elevar o superávit primário, principalmente pela redução dos gastos públicos, o que traria uma dupla contribuição positiva para a administração macroeconômica: reduziria o já evidente risco de crescimento maior da liquidez e da demanda e evitaria que o Banco Central tivesse de usar com grande rigor, para isso, o instrumento dos juros.