sábado, maio 31, 2008

Paulinho da Força: investigação e cassação à vista

Forças ocultas

Apesar do cerco, Paulinho crê na absolvição
com o aval do presidente do Conselho de Ética


Diego Escosteguy

Alan Marques/Folha Imagem
Ed Ferreira/AE
O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, e o novo presidente do Conselho de Ética da Câmara, Sérgio Moraes: "Ele é meu"

O deputado do PDT Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, fez carreira à frente da Força Sindical servindo por baixo ao grande empresariado. Mudou de patrão no governo Lula, mas agora está prestes a perder o emprego. Suspeito de receber propina da quadrilha acusada pela Polícia Federal de vender facilidades no Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), Paulinho pode ser demitido por justa causa – do cargo de presidente da Força, da direção do PDT, do mandato parlamentar, da vida pública. Na terça-feira passada, depois de analisar as provas recolhidas pela PF contra o sindicalista, o corregedor da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira, recomendou ao Conselho de Ética a cassação de Paulinho. No dia seguinte, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu ao Supremo Tribunal Federal abertura de inquérito para investigar o deputado. O sindicalista também passou a apanhar nos bastidores. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, articula para que o deputado saia do partido, enquanto seus aliados na Força trabalham para que ele renuncie ao mandato. Paulinho vai ter de usar toda a experiência que acumulou nos quase vinte anos de sindicalismo para manter a própria estabilidade no emprego.

Na semana passada, VEJA apurou mais dois exemplos do tipo de trabalho que está empurrando Paulinho para o cadafalso político. Ambos aconteceram no Ministério do Trabalho, pasta dominada pelo PDT, que se transformou numa espécie de braço político da Força. Em 2007, Paulinho pressionou Lupi e Luiz Antonio de Medeiros, secretário de Relações de Trabalho da pasta, a conceder ilegalmente uma licença a um sindicato ligado à central. O sindicato das "Duas Rodas", como é conhecido dentro da Força, nasceu como uma dissidência do sindicato dos metalúrgicos de Manaus. Como a lei só permite um sindicato por região, o "Duas Rodas" rodava ilegalmente. Quando foi informado de que os técnicos da pasta não viam como dar um parecer favorável à licença desse sindicato, Paulinho estrilou: "Façam assim mesmo. Ninguém vai notar". Os prepostos do sindicalista no ministério acharam que alguém ia acabar notando – e negaram o registro. Em outras ocasiões, Paulinho foi mais incisivo.

Luiz Fernando Emediato, presidente do conselho deliberativo do FAT e consultor da Força, foi mais competente. Em novembro, ele propôs ao conselho uma resolução que devolvia às centrais sindicais a prerrogativa de receber dinheiro do governo para programas de qualificação profissional – esse tipo de repasse fora cancelado em 2005, em razão de suspeitas de fraude nos convênios. A resolução patrocinada por Emediato e aprovada pelo Codefat beneficia diretamente a Força, que poderá voltar a receber dinheiro federal para o Centro de Solidariedade ao Trabalhador, sua principal vitrine. Na semana passada, descobriu-se que Emediato também recebe um extra do gabinete do deputado Paulinho. Ou seja, é o verdadeiro operário-padrão do sindicalismo de resultados: acumula a presidência do Codefat com a faina na Câmara, a função de empresário e as atividades como consultor da Força.

Embora o vento político sopre contra Paulinho, o calendário eleitoral joga a seu favor. À medida que se aproxima a campanha municipal deste ano, aproxima-se também o fim dos trabalhos no Congresso. É a praxe em ano de eleição: os parlamentares abandonam os gabinetes e passam a se dedicar integralmente às articulações políticas regionais. Paulinho conta com essa diáspora para que os deputados do Conselho de Ética não tenham tempo de analisar seu processo – na esperança de que o caso definhe na memória do público antes que o Congresso volte à ativa, no ano que vem. Mas o relógio não parece ser o único aliado do sindicalista. Na última quarta-feira à noite, o deputado correu ao gabinete de Lupi para convencê-lo de que seu mandato está a salvo. Paulinho assegurou ao ministro já ter conversado com o novo presidente do Conselho de Ética, deputado Sérgio Moraes, do PTB gaúcho. "Ele é meu", garantiu o sindicalista, antes de emendar: "E eu vou indicar o relator do processo".

Não se sabe se Paulinho disse a verdade ou se o parlamentar vendeu uma influência que não tem. O fato é que as primeiras declarações do novo presidente do conselho favorecem a primeira versão. Moraes, um parlamentar com biografia suspeita, será obrigado a conciliar a lida no conselho com sua defesa em três inquéritos perante o STF. Ele já disse que vai demorar quinze dias para analisar o pedido de cassação de Paulinho. Depois de repetir o velho bordão de que não vai condenar ninguém sem provas, o deputado explicou didaticamente seu gelatinoso padrão moral: "Cachorro que não tem pulga ou teve ou vai ter. Quem não tem defeitos?". Paulinho, portanto, será julgado pela ética canina, mas a dos vira-latas. Pode ser sua salvação.