Vetar a aliança com o PSDB em Belo Horizonte por que “tem o dedinho do Aécio”, como definiu a líder do governo no Senado, Ideli Salvatti, é decisão típica do petismo, que há muito tempo definiu que os tucanos são os adversários a serem batidos. Mas depende do tamanho do tucano. Várias cidades menos importantes tiveram a aliança com o PSDB aprovada, mas o governador Aécio Neves, por mais aproximações que faça com setores do PT, continua a não merecer a confiança do petismo, representado pelo chamado Campo Majoritário, grupo que ainda domina o partido e que continua fortemente influenciado pelo ex-ministro José Dirceu, que definiu o PSDB como o verdadeiro inimigo político do PT. Segundo Dirceu, o governador Aécio Neves é um bom candidato, mas não para o PT.
É verdade que o governador de Minas Gerais tem mais afinidades com o lulismo do que com o petismo, e talvez essa seja a maior dificuldade para seus projetos de união de forças políticas. O lulismo é um fenômeno político encarnado na figura do presidente Lula, que não tem substituto, só seguidores.
O petismo pretende ter vida após-Lula, embora não tenha nenhuma liderança de peso eleitoral, com a exceção da ex-prefeita Marta Suplicy, que tem luz própria em São Paulo, mas não a nível nacional.
Lula desconfia que o PT, que ele conhece bem, não tem candidato capaz de absorver sua popularidade, transformando o lulismo em um trunfo eleitoral. E por isso foi buscar numa quase “estrangeira”, a ministra Dilma Rousseff, a alternativa para tentar criar uma candidatura viável.
Originária do PDT gaúcho, a ministra Dilma encontra reações dentro do petismo, e só se tornará viável se as pesquisas de opinião mostrarem que sua imagem está sendo colada à de Lula, tarefa difícil, pois a experiência política mostra que transferir votos não é um padrão.
Antes de Dilma, Lula já tentara convencer Aécio a trocar para o PMDB, um partido da base, e se viabilizar como candidato. E também Ciro Gomes, potencial candidato do PSB, tem a simpatia do presidente.
Mas o PT prefere perder a eleição a perder a cabeça da chapa, e é capaz de isolar um antigo parceiro como o PSB para manter sua hegemonia.
A candidatura de Marcio Lacerda, do PSB, a prefeito de Belo Horizonte, com o apoio do PT e do PSDB, parecia um golpe perfeito do governador Aécio Neves e do prefeito petista Fernando Pimentel.
Mas o petismo não dá espaços a seus aliados políticos, e pode estar criando, em Belo Horizonte, um problema maior do que teria se apoiasse a aliança.
O prefeito Pimentel é um candidato quase automático ao governo de Minas Gerais na sucessão de Aécio em 2010, com o apoio deste. Mas está se saindo tão desgastado dessa disputa com a direção nacional do partido, que pode sentir seu espaço de ação política inviabilizado.
Não seria estranhável se Pimentel mudasse para o PSB para disputar o governo de Minas. O PT estaria transformando a possibilidade quase certa de eleger o governador do segundo maior colégio eleitoral do país por uma dissidência interna que fortaleceria o PSB, um aliado de primeira hora do qual também se afasta.
Com a dificuldade acentuada de que o PSB tem em Ciro Gomes um candidato à sucessão de Lula que, pelo menos antes da campanha começar, aparece como dos mais populares entre o eleitorado.
Os especialistas em eleição consideram que dificilmente o candidato do PT, seja qual for, terá menos que 20%, o que o colocaria no segundo turno.
Mas, por enquanto, é Ciro quem está com esse índice, disputando em segundo lugar contra o tucano José Serra, que lidera as pesquisas de opinião.
Ciro Gomes é, portanto, hoje, um candidato mais viável do que qualquer petista, o que está complicando a relação dos dois partidos, especialmente depois que a aliança em Belo Horizonte foi vetada pela Executiva Nacional do PT.
Marcio Lacerda, o candidato a prefeito da aliança, é correligionário de Ciro, e foi seu chefe de gabinete no Ministério da Integração Nacional. Se o veto for mantido pela direção nacional petista, como tudo indica, a aliança PT-PSB terá o apoio informal do governador Aécio Neves, e provavelmente Marcio Lacerda será eleito prefeito.
Mas estará quebrado o encanto.
A aliança do PT com o PSB será apenas formal e poderá se transformar em uma crise em médio prazo. Ao mesmo tempo, o movimento político de ampliação das alianças, que era o grande trunfo do governador Aécio Neves para alimentar sua posição de candidato a presidente pelo PSDB, perderá o brilho, por culpa do PT.
Há quem diga que o presidente Lula preferiria que o candidato tucano fosse José Serra, e não Aécio Neves. Vê na ligação de Serra com os Democratas em São Paulo um ponto fraco de sua candidatura, enquanto Aécio teria maior capacidade de atrair o apoio da esquerda política, o que inviabilizaria possíveis alianças petistas no segundo turno.
O PSB, por exemplo, fecharia com Aécio contra o PT, mas rejeita Serra. Este, no entanto, tem o apoio do PPS e, tanto quanto Aécio, deve ter o apoio de parte considerável do PMDB.
Mas, mesmo com o apoio dos Democratas, dificilmente uma candidatura de Serra poderia ser caracterizada pelo PT como “de direita”, assim como Lula não foi tachado de “direita” por ter o apoio do vice José Alencar.
O tempo de televisão para a propaganda eleitoral tem mais importância na campanha do que rótulos políticos que já não têm definição nítida.
Ao vetar a união, o PT está jogando fora a possibilidade de realização de um projeto político menos radicalizado, isolando uma de suas mais promissoras lideranças.
E jogando o governador Aécio Neves para um projeto tucano puro.