sábado, maio 24, 2008

Dora Kramer Tempos difíceis

O cientista político Antonio Lavareda, conselheiro da aliança PSDB-PFL antes, durante e depois do governo Fernando Henrique Cardoso, confirma a impressão geral. Na avaliação dele, a atuação da oposição, hoje, não está à altura da tarefa de quem precisa enfrentar um presidente da República bem avaliado como Luiz Inácio da Silva.

Falta, sobretudo, estratégia para furar o cerco da popularidade de Lula e estabelecer seus próprios termos de diálogo com a sociedade. Resumindo, e aí não são palavras de Lavareda, age às tontas. Sabe aonde quer chegar - ao Palácio do Planalto -, mas não dá sinais de ter a mais remota idéia de como fazer o caminho até lá.

Pensando nisso e olhando o favoritismo do Partido Conservador para as eleições gerais de 2010 na Inglaterra depois de mais de uma década de domínio do Partido Trabalhista, Antonio Lavareda fez um texto sobre as razões dessa virada e mandou para "os amigos da oposição" a título de ajuda na reflexão sobre como vencer o seu grande desafio: sobreviver na era Lula e, de preferência, prevalecer no coração do eleitorado quando o pós-Lula vier.

Hoje, lembra Lavareda, o líder dos Conservadores, David Cameron, tem 20 pontos percentuais de vantagem sobre os Trabalhistas nas pesquisas. Mas a maré já foi bastante adversa nos anos de glória de Tony Blair.

"Derrotados de forma avassaladora em 1997, os conservadores foram à luta", iniciando a trajetória de reinvenção do partido. Enquanto os ventos não mudavam para o adversário "carismático e com boa imagem internacional", o Partido Conservador não esperou sentado pelos ganhos decorrentes das dificuldades do adversário que, depois de Blair, ainda teria fôlego para ganhar mais uma eleição.

O partido reformulou sua estrutura interna, abriu espaço à participação dos filiados, patrocinou referendos sobre questões polêmicas, atuou firme na atração de novos militantes, aumentou o rigor ético na seleção de candidatos, "saiu" do Parlamento para discutir temas de interesse nacional em audiências públicas país afora e adotou uma nova linha de combate ao governo.

"Os conservadores passaram a se concentrar na cobrança da melhoria dos serviços públicos e procuraram capitalizar o desapontamento do eleitorado com as promessas não cumpridas pelos trabalhistas", relata Antonio Lavareda.

No texto enviado aos "amigos da oposição", Lavareda não faz juízo de valor nem comenta as situações. Deixa as comparações e as conclusões ao encargo do raciocínio dos destinatários.

Mas, se lhe perguntam qual seria a atitude ao alcance da oposição para 2010, não tem dúvida: "É esquecer Lula; deixar de lado a economia (salvo se a inflação aumentar); focar no governo/serviços públicos; e, sobretudo, personalizar a disputa contrapondo as qualidades de fulano versus os defeitos de beltrano ou beltrana..."

Outro rumo

O vice na chapa do tucano Antonio Imbassahy para a prefeitura de Salvador não será o radialista Raimundo Varella conforme se aventou, mas Miguel Kertzman, do PPS.

O presidente do partido, Roberto Freire, informa que hoje será oficializada a aliança. Esta sim, com o aval do governador de São Paulo, José Serra, e não a anterior que tentou juntar Varella a Imbassahy, uma iniciativa da Igreja Universal, segundo Roberto Freire.

PPS e PSDB, diz, caminharão juntos onde for possível, já em ritmo de ensaio geral para a eleição presidencial de 2010. Mas em São Paulo, por exemplo, não será possível. Diante da divisão do PSDB, diz Freire, o PPS manterá a candidatura da vereadora Soninha Francine.

Sem pai

Esta será a primeira eleição na Bahia depois da morte de Antônio Carlos Magalhães. Será também a primeira em que as candidaturas não serão organizadas segundo critérios do "carlismo" ou "anticarlismo".

Embora tanto aliados quanto adversários de ACM participem da disputa, a lógica das alianças não terá como referência a figura do senador falecido no ano passado.

O parâmetro, por décadas uma cláusula pétrea na política baiana, já levou o PSDB ao palanque do PT e a ausência dele leva, por exemplo, ACM Neto a se articular com Geddel Vieira Lima, arquiinimigo do avô.

Jefferson Peres

Celebrado pela consistência moral, o senador Jefferson Peres não via nisso motivo para homenagens.

Se oportunidade tivesse de comentar a própria despedida, diante da exaltação geral à sua conduta ética como atributo de exceção, o senador provavelmente repetiria o que dizia em vida.

"Agir eticamente para mim é tão natural quanto o ato de respirar. Não é pose, não é bandeira eleitoral, não é construção artificial de imagem para uso externo, é compromisso de vida."