No dia 28 de março de 1968, a PM invadiu um restaurante popular, de estudantes, na ponta do Calabouço, no Rio, para conter uma manifestação. Um tiro acertou o jovem Edson Luiz, recém-chegado do Pará e que morreu sem nada a ver com o peixe. Do episódio resultaram passeatas contra a ditadura e mais tiros, bombas e prisões, que, por sua vez, levaram à Passeata dos 100 Mil, e todo o imbróglio desaguou no AI-5. No momento em que a bala atingia o garoto, eu entrevistava Tom Jobim num botequim em Ipanema, para a revista "Manchete", onde trabalhava. O corpo de Edson seria levado nos ombros de seus colegas até a Assembléia Legislativa, na Cinelândia. Mas, ali, entre chopes, risos e bossas novas, não sabíamos de nada, nem podíamos saber. Era a primeira vez que me sentava com Tom e, por isso, ficou fácil associar aquele dia ao assassinato de Edson. Mais tarde, à noite, eu próprio iria para a Cinelândia, onde Edson estava sendo velado, e seguiria seu enterro na noite seguinte, do Centro a Botafogo, a pé. Calhou que, por muitos anos, eu não voltasse a ver ou a falar com Tom. Ele fora morar fora, eu também e, mesmo quando os dois estavam no Rio, as circunstâncias não favoreciam. Até que, um dia, em 1988, o destino (mais exatamente, a fome) me conduziu a uma churrascaria do Leblon. E lá estava Tom, numa mesa, com Ronaldo Bôscoli, meu ex-colega de TV Globo. Ronaldo me chamou a sentar com eles. Para meu espanto, Tom me reconheceu. E, ao dar uma espiada de passagem no jornal que comprara na banca em frente, vi um título na primeira página: "Fazem hoje 20 anos da morte do estudante Edson Luiz". Era uma incrível coincidência. Bem, pela intolerável urgência do tempo para passar, esta data, só importante para mim, também faz 20 anos nesta sexta-feira. |