terça-feira, março 25, 2008

Práticas típicas de estado policial e os frívolos

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Se uma parte considerável da imprensa renunciou a seu ofício por alinhamento ideológico com o PT, burrice ou preguiça, ainda não renunciei ao meu. Reparem que não inclui aqui os que fazem outra coisa: prestam serviços ao governo porque vivem do dinheiro público que roubam dos brasileiros. Mas cada coisa a seu tempo. Volto ao ponto.

Tarso Genro, como quem diz “hoje é segunda-feira”, afirma que o governo está fazendo um “minucioso levantamento” dos gastos deste governo e do anterior.

Não parece óbvio? Não parece até justo?

Que o governo fizesse um levantamento dos seus próprios gastos para corrigir falhas e tal, vá lá. É obrigação sua. Que estivesse empenhado em esclarecer os episódios que geraram a CPI, idem. Mas fazer “levantamento” de um governo passado, sem que se saiba qual é o caso que se investiga, corresponde a usar o aparelho de estado como polícia política.

Isso não é normal, não. Pode ser normal na democracia brasileira, assaltada por bananeiros vulgares. Imaginem se um Bush, no primeiro mandato, sem que houvesse uma demanda de uma comissão de investigação do Congresso ou da Promotoria, decidisse escarafunchar as contas de Clinton. Cairia no dia seguinte.

Pior: imaginem se esses dados vazassem para a imprensa. Dois funcionários do Departamento de Estado foram demitidos porque, atenção!!!, acessaram a, digamos, ficha de Barack Obama. O jornalismo americano tratou o caso como escândalo.

Mas setores importantes da imprensa estão narcotizados. Em parte, cumprem-se os desígnios do Moderno Príncipe gramsciano: até para se opor ao “partido” (que ele chamava de “Moderno Príncipe”) é preciso ser do “partido”.

Tarso Genro diz: “É só um levantamento”, e muita gente diz: “Viram? É só um levantamento”. Ainda que ele não tivesse sido vazado, caracterizando um dossiê, já seria um crime de lesa democracia.

Inverteu-se o fluxo da história e da lógica. Instalou-se uma CPI sem fato determinado para investigar “todo o governo FHC”. Como o fato não existe, é o governo quem, confessadamente, vai fornecer a matéria-prima à comissão.

Vamos ver. Caso um oposicionista vença a disputa presidencial em 2010, os agora oposicionistas, então situacionistas, podem propor uma CPI para investigar o governo Lula. Com que fato? Ora, e quem precisaria disso? Então o presidente da hora autorizaria dois ministérios a escarafunchar a gestão petista para fornecer dados à comissão.

O mundo viria abaixo.

O que se tem aí é um escárnio. Que as ratazanas, mascates e tocadores de tuba endossem o procedimento, vá lá. Estão fazendo as vontades de quem lhes paga o salário e lhes garante o emprego. Mas e os outros?

O PT desarrumou mesmo os critérios e a ética do jornalismo. Muita gente se perdeu.

E pensar que há bobalhões preocupados, como é mesmo?, com o “colunismo de direita”. Ainda que existisse, mereceria pau se estivesse endossando práticas típicas de estado policial ou ameaças à liberdade de imprensa. Gente idiota e frívola, abraçada apenas ao próprio rancor!

Dossiê, sim. Um dossiê contra a democracia e o estado de direito.

Lula pergunta, e eu respondo

No Estadão On line. Volto depois:
O senador Renato Casagrande (PSB-ES) e o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) informaram hoje que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "é uma mentira" a reportagem da revista VEJA segundo a qual o Palácio do Planalto teria elaborado um dossiê sobre os gastos com cartões corporativos feitos no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). "Se não fiz dossiês em 2005, na época em que precisava fazer enfrentamentos, por que os faria agora. A quem pode interessar isso agora?", disse Lula, segundo os dois parlamentares, na reunião de hoje do Conselho Político, no Palácio do Planalto.

Comento
Huuummm...

E seria possível dizer o contrário? “É, a jênti fizému mêmu um doçiê pra pegá êçis tucânu”. É, em 2005, não houve dossiê, mas em 2006 houve, né? Vamos refrescar a memória de Lula sobre alguns dos valentes envolvidos naquela operação:
- Jorge Lorenzetti – amigo de Lula, membro do seu comitê de campanha, churrasqueiro presidencial e uma espécie de padrinho e tutor de Lurian.
- Ricardo Berzoini – presidente do PT, chefiava a legenda então e comandava a campanha do PT. Afirmou que sabia da tentativa de comprar um dossiê.
- Oswaldo Bargas – membro da CUT, secretário-executivo do ministério do Trabalho, marido da secretária pessoal do presidente.
- Freud Godoy – segurança pessoal de Lula.

Ademais, não há o que negar. O dossiê está na praça. O governo está bravo porque ele virou notícia.

Ah, sim: Lula recorre ao velho truque. Sempre que o partido é pego com a boca na botija, ele tenta inverter o ônus da tramóia. A quem interessa a INFORMAÇÃO? À democracia. A quem interessava o dossiê? A Lula.