O Estado de S. Paulo |
26/3/2008 |
A CPI dos Cartões Corporativos caminhava para seus momentos finais quando apareceu na revista Veja o dossiê - ou “trabalho para oferecer dados à CPI”, como prefere o ministro Tarso Genro - sobre os gastos da Presidência da República nas contas B, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O PSDB ficou numa sinuca. Embora já soubesse da intenção do Palácio do Planalto de recorrer à intimidação na base do “não me investiga senão eu te investigo”, viu-se obrigado a recuar e a fazer nova ofensiva investigativa, exigindo a quebra do sigilo das contas da Presidência Luiz Inácio da Silva. Puro jogo de oportunidade. A oposição estava cansada de saber que o governo reunia dados contra FH. Primeiro, porque é o tipo de informação de fonte conhecida, pois é o governo o dono dela. Segundo, porque parlamentares aliados e ministros em diversas oportunidades, inclusive públicas, deixaram bem claro que a idéia era impor a dinâmica do chumbo trocado. As regras estiveram claras desde o começo e assim foram tacitamente aceitas. No dia 7 último, os tucanos haviam desistido de ir à Justiça pedir a quebra do sigilo dos gastos de Lula. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, anunciou a retirada do mandado de segurança apresentado ao Supremo Tribunal Federal no dia 13 de fevereiro, dizendo se tratar de “um gesto de confiança nas investigações”. Pareceu mais um gesto de amabilidade para com o PT, que naquela altura concordara em não impor mais resistências à criação da CPI, mediante um acordo segundo o qual as contas presidenciais de Lula e FH ficariam de fora do rol das investigações. De lá para cá, o fracasso das diversas tentativas de aprovar requerimentos de quebra de sigilos deixou evidente a inutilidade da CPI e o PSDB - contra o entendimento do DEM - resolveu abandonar a comissão para concentrar artilharia na CPI das ONGs. A presidente, Marisa Serrano, tucana, chegou a dar a senha, quando oficializou a disposição de deixar o posto, na semana passada. A publicação do “dossiê” na revista, no entanto, obriga a oposição a fazer cera durante algum tempo. Até que fique claro, conforme o líder do DEM no Senado, Agripino Maia, se o governo pretende mesmo usar sua maioria para impedir a divulgação dos gastos e evitar convocações indesejáveis. Ora, se a decisão dos oposicionistas depende disso, então conviria economizar tempo e energia, porque é evidente que o Palácio do Planalto usará de todos os recursos para ficar fora dessa história. Se quer mesmo investigar as despesas sigilosas - as únicas que interessam, pois as públicas estão publicadas na internet -, a oposição precisa dar eficácia à sua ação, começando por deixar de lado as ameaças e os apelos à colaboração dos governistas. Estes ficarão onde estão, defendendo o governo. Se a alguém cabe se mexer de fato é à oposição. Tal e qual O grande argumento do presidente Lula para negar a inegável existência do dossiê com os gastos da Presidência FH é o mesmo utilizado em 2006 para contestar as evidências de autoria no dossiê dos “aloprados”: a ausência de relação entre causa e efeito. Há dois anos, dizia que não seria lógico expor a candidatura favorita a tamanho risco sem necessidade. A necessidade era a de desmoralizar José Serra, o primeiro colocado na eleição para o governo de São Paulo. Ontem, Lula perguntava: “Se não fiz em 2005 (no caso mensalão) por que faria (um dossiê) agora”? Porque tinha os dados na mão e precisava usá-los para intimidar a oposição. A compulsória Acostumado a decidir em “petit comité”, o PSDB poderá ver-se diante da necessidade de tomar uma decisão partidária, em função do impasse em torno da candidatura a prefeito de São Paulo. O governador José Serra recusa-se a arbitrar, limitando-se a não vetar a postulação de Geraldo Alckmin, que não quer dar à candidatura o caráter de decisão pessoal e, por isso, reivindica consulta ao partido. Seria uma situação praticamente inédita no PSDB, em se tratando de decisões de importância estratégica. Todas, desde a candidatura de Fernando Henrique Cardoso a presidente em 1994, foram tomadas pelo colégio de cardeais. No caso em curso eles continuam a atuar, mas só nos bastidores e relativamente à distância. O desembarque do presidente da legenda, senador Sérgio Guerra, nesta semana em São Paulo é o primeiro gesto “externo”. Se não for suficiente, os tucanos terão de resolver se retomam a prática da imposição de cúpula ou se navegam pelos desconhecidos mares da decisão colegiada. O PSDB não gosta muito do modelo, mas pode acabar sendo forçado a aceitá-lo. É que o cardinalato não quer se envolver abertamente na questão, pois cada poderoso joga com suas respectivas cartas “fechadas” em preparação para o lance maior de 2010. |