sábado, março 01, 2008

Congresso A CPI dos Grampos começa a decolar

Paranóia verdadeira

CPI descobre que, além de ministros do STF, 
FHC e Lula podem ter sido grampeados


Alexandre Oltramari

Ag. Câmara
O executivo Madureira de Pinho (à esq.), da Oi, confirmou o grampo

Há seis meses, uma reportagem de VEJA revelou que ministros do Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte do país, desconfiavam que seus telefones eram monitorados ilegalmente. A Câmara dos Deputados instaurou uma CPI para apurar o caso, preocupada com as suspeitas de espionagem oficial explicitadas pelos magistrados, mas também compartilhadas por vários setores, inclusive o próprio Parlamento. Na semana passada, um depoimento à comissão mostrou que a preocupação dos ministros não era movida apenas por paranóia. O representante de Relações Institucionais da Oi Fixo, antiga Telemar, Arthur Madureira de Pinho, revelou que o setor de segurança da empresa constatou que o telefone do apartamento do ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, no Rio de Janeiro, foi clandestinamente grampeado em 2006. No endereço onde foi localizada a escuta, na Barra da Tijuca, mora uma das filhas do ministro, e também é lá que ele se hospeda quando visita a cidade.

O ministro já havia denunciado que práticas similares de espionagem foram empregadas contra ele nos aparelhos que utiliza no tribunal. Seu colega de toga Gilmar Mendes denunciou a mesma coisa e levantou a suspeita de que membros da Polícia Federal poderiam estar envolvidos nas operações clandestinas. "Isso tudo é inimaginável e reforça a suspeita de que estamos vivendo em um estado policial", diz Marco Aurélio. A investigação parlamentar começou há apenas quinze dias, mas os primeiros depoimentos indicam que a vigilância clandestina feita contra as autoridades é mais grave e abrangente do que se imagina, principalmente no Rio de Janeiro. Funcionários e ex-funcionários de uma companhia telefônica carioca revelaram que já foram encontrados grampos em linhas usadas pelo ex-presidente Fernando Henrique e, mais recentemente, pelo presidente Lula. Em 2006, segundo um ex-funcionário da Oi, os técnicos da empresa detectaram indícios de violação das linhas que atendiam à comitiva do presidente no Hotel Glória.

Fabio Pozzebom/ABR
O ministro Marco Aurélio foi monitorado no Rio de Janeiro, em 2006: estado policial

"Atiramos no que vimos e acertamos no que não vimos. É estarrecedor", surpreende-se o presidente da CPI, o deputado federal Marcelo Itagiba, ex-delegado da PF. Até agora, a investigação não descobriu nenhuma evidência da participação de agentes do estado nas intercepções, mas os primeiros depoimentos tomados não deixam dúvida de que falar ao telefone há muito deixou de ser uma atividade particular, principalmente entre as autoridades da República. Os ministros do STF foram convidados a prestar depoimento à comissão. Depois de uma reunião entre os integrantes da CPI e a presidente da corte, ministra Ellen Gracie, ficou combinado que aqueles que quiserem formalizar as denúncias ou suas suspeitas poderão fazê-lo por escrito.