quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A resposta de FHC às grosserias de Lula

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Leia o que vai abaixo. Volto depois:
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rebateu nesta quinta as alfinetadas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. FHC diz que as declarações de Lula são um "insulto ao povo brasileiro". "Porque o povo é que trabalhou para conseguir e os governos anteriores também", afirmou FHC nesta quinta, após o lançamento do livro "Cultura das Transgressões no Brasil". Ao comentar o bom momento econômico do Brasil, Lula insinuou que FHC era um pé frio. Lula afirmou que a sorte ajudou que o país atingisse hoje um crescimento vigoroso e se tornasse um credor externo. "Dizem que a sorte nos ajudou. Acho que um pouco de sorte não faz mal a ninguém. Deus me livre ser um pé-frio como muitos foram para esse país", afirmou Lula.

FHC afirmou que é ótimo que Lula seja um "pé quente, porque nos ajuda". "Agora, não precisa xingar os outros. Tenha paciência. O presidente Lula precisa se olhar um pouquinho, com mais respeito ao povo e àqueles que o antecederam. Fica feio. Todo dia cospe no prato que está comendo." Na quarta, Lula também alfinetou FHC durante visita ao Rio. Ele afirmou ter uma responsabilidade maior em não errar com a população brasileira porque vai ter de voltar ao convívio com os trabalhadores quando acabar seu mandato na Presidência da República. Em recado indireto ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula afirmou que "não vai para Paris ou Londres ao término de seu mandato". Ele ressaltou que vai voltar para São Bernardo, a 800 metros do Sindicato dos Metalúrgicos. "Antigamente nesse país o governante errava, saía do governo e passava oito meses na Europa estudando, dando aula não sei aonde. Depois entrava outro, errava e acontecia o mesmo. Tenho consciência que, ao deixar a Presidência, meus amigos serão o conjunto dos trabalhadores brasileiros que me ajudaram a chegar à Presidência", afirmou.

Cartões
FHC defendeu a utilização dos cartões corporativos do governo — ferramenta de pagamento que passou a ser utilizada em seu governo. O TCU (Tribunal de Contas da União) faz uma auditoria para verificar se houve irregularidades na utilização do cartão. As suspeitas surgiram após denúncias de má utilização por parte da ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), que admitiu irregularidades e deixou o governo. "É um bom instrumento, que foi mal usado. O cartão, em si, não quer dizer nada. É um instrumento de controle", disse FHC. No entanto, o tucano criticou os saques em dinheiro feitos com o cartão corporativo. "Agora, tirar uma enorme quantidade de dinheiro com o cartão não se justifica. Não é para isso. Mas tem de olhar com cuidado para não misturar alhos com bugalhos, para não pensar que todo cartão está errado."

CPI dos Cartões
Após acordo com lideranças governistas, o PMDB cedeu nesta quinta a presidência da CPI mista (com deputados e senadores) dos Cartões Corporativos para o PSDB. A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) aceitou o convite do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) para presidir a CPI mista. FHC diz que não tem nada a esconder e que todos os gastos feitos com cartão corporativo na sua gestão estão nas mãos do atual governo. "O meu governo já saiu há cinco anos. Todo o material está na mão do governo atual. Se tivesse coisa errada já deviam ter visto antes. Isso não quer dizer que não vejam agora." O ex-presidente defendeu punições para eventuais irregularidades. "Se tiver errado, eu nunca sou solidário com falcatruas. Se tiver, lamento e que se puna. Não é essa a minha preocupação."

No entanto, ele criticou a proposta dos governistas de iniciarem as investigações a partir dos gastos feitos na sua gestão. "A Constituição diz que precisa ter um fato determinado para fazer uma CPI, não houve uma acusação. É política, isso é um jogo político. A acusação que existe é no governo atual. Tem de verificar se a acusação vale ou não. Não houve nada a respeito do governo passado. É mera politiquez. Agora, se, por acaso encontrarem alguma coisa, eu serei contra o que tiverem encontrado, se tiver errado. Não tem problema, não."

Voltei
Pois é... Não faltam aqueles, mesmo na oposição, que acreditam que o ex-presidente deveria ficar calado, não cedendo às provocações de Lula. Discordo. Fosse o Apedeuta alguém irrelevante, que estivesse por aí a exercitar sua loucura minoritária, vá lá. Mas ele é dos políticos mais populares do país e conta com um poder que poucos presidentes, incluindo FHC, tiveram. Além de todas as faculdades próprias de um chefe de governo e de estadopresidente da República, há o império sindical, o verdadeiro poder hoje no Brasil, que está sob o seu comando.

Por que se calar diante das grosserias? Cabe também perguntar: por que Lula precisa delas? Para continuar a alimentar o próprio mito. Observem que já não lhe basta mais o “nunca antes nestepaiz’, o mantra que sempre serviu de cantilena introdutória para a auto-elogio; agora, ele também se quer, como vou dizer, metafisicamente superior ao outro: seria mais sortudo, um verdadeiro pé-quente. Até aí, vá lá, que fosse. Mas não basta. É preciso fazer pouco do antecessor, com a boçalidade costumeira.

Poderia apelar à experiência de outros países democráticos para demonstrar que isso não é corriqueiro. Imaginem um presidente americano que tivesse de se justificar acusando o antecessor... Não colaria. Não nos EUA. Se Barack Obama vencer, talvez vejamos esse traço de terceiro-mundismo na política americana. Vamos ver. Mas fiquemos no Brasil mesmo, em seus períodos democráticos. Nem Collor, que bateu muito em Sarney na campanha de 1989, tentou usar o legado (e olhem que herdou uma inflação de 80% ao mês) para demonizar o antecessor. Lula não se descola de sua obsessão.

Quanto aos cartões e à CPI, dizer o quê? FHC está certo. O instrumento é bom, mas foi pervertido. E não resta dúvida de que o PT tentou se livrar do peso da própria lambança organizando um Comitê de Execução Pública do governo anterior.

O que faz o ex-presidente? Fica parado, como alvo fixo, tomando as pancadas? Justo ele que pagou o preço de se expor à fúria dos tontos maCUTs para fazer o que tinha de ser feito? Já imaginaram se FHC, num rasgo de concessão aos adversários, tivesse feito com o Brasil tudo o que pedia o PT? Talvez Lula fosse presidente hoje do mesmo modo. De um país com índices econômicos e sociais muito diferentes deste. Seria a maior nação africana do mundo. E fora da África.

Lula e o revanchismo triunfalista

FHC respondeu ontem, comento no post das 2h29 desta madrugada, às boçalidades que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva andou lhe dirigindo. Não são poucos os tucanos que acham que o ex-presidente poderia se poupar da refrega, uma vez que Lula parece contar com essa reação para estufar um tanto mais o... deveria escrever “peito”, mas escolherei “a barriga” — parece-me que carrega o simbolismo adequado a estes dias. Mais do que pelo orgulho, este governo se define pela jactância balofa. Segundo Lula, ele é pé-quente; FHC era pé-frio. Não basta ao Apedeuta privatizar os esforços de estabilidade que já são de uma geração. Ele precisa ser também o ungido. Lula e o PT criaram no país uma coisa bastante perversa à cultura política: o revanchismo do triunfo.

Ora, ele ganhou a eleição duas vezes depois de três derrotas — duas deles para FHC, e este fato não deve ser minimizado no seu rancor —; governa um pais que está com a economia em ordem porque, afinal, seus adversários de antes (e de agora) fizeram rigorosamente o contrário do que recomendava... Lula! E não seria difícil demonstrá-lo. Do Apedeuta — e isto não se faz com nenhum outro político no país —, não se cobra coerência, mas apenas eficiência. E ele é, sob certo ponto de vista, “eficiente”: justamente quando ignora tudo o que pregou o PT ao longo de mais de 20 anos. Como subsiste certo temor de que possa entrar em regressão, seus atos em favor da economia de mercado são calorosamente aplaudidos. Espera-se sempre que o som desses aplausos abafe certo alarido de seus esquerdistas, de seus nacional-desenvolvimentistas.

Lula tira, claro, proveito dessa figura sem passado em que se transformou. Explico: passado, ele tem, sim. Mas apenas o mítico: “o operário pobre que venceu as dificuldades, aderiu à esquerda e descobriu o mercado”. Ninguém dá bola é a seu passado histórico. Podem observar: cobra-se de FHC até hoje a união do intelectual marxista (que ele nunca foi, diga-se) com o PFL lá em 1994... Mas nada de perguntar o que faz Lula com os seus “conservadores”.

Peguei algumas estradas vicinais. Volto à principal. Essa condescendência, se concorre para amansar-lhe o espírito (ele adora dizer que supera FHC também nos valores, vá lá, de mercado), também cria uma figura que transita na política acima do bem e do mal. Por isso parece comum, até natural, que, mesmo vitorioso, surfando em índices formidáveis de aprovação, ele se comporte ainda como uma espécie de opositor do regime de... FHC!!!

Não basta que lhe reconheçam as obras, até as que não são suas: no caso da estabilidade, por exemplo, sua virtude foi manter as regras instituídas por outros. Lula sente a necessidade também de expropriar FHC de seu passado: precisa compulsivamente mutilar a biografia do antecessor; apagar imagens da fotografia; retocá-la com a determinação que tinham os stalinistas de reinventar o passado. Ah, sabemos: faz isso sem teoria mesmo, sem saber direito quem foi Stálin; sem ter qualquer motivo, vá lá, utópico (ainda que uma utopia torta) para apoiar ditadores como Fidel Castro ou Hugo Chávez.

Ora, ora... As regras da estabilidade que estão dadas, digo num post abaixo, custaram caro ao antecessor do petista. O beneficiário óbvio — porque está aí, no poder — do desgaste foi o próprio PT. Vejam, pois, que coisa formidável: tudo aquilo contra o que o partido lutou e que garantiu a sua ascensão é hoje o seu melhor patrimônio. Lula poderia, quando menos, silenciar, então, sobre o passado. Mas não: ele continua a demonizar FHC usando a régua e compasso que lhe deu... FHC!!!

“Ora, dirão, política é assim mesmo!” Não é, não. Caso se eleja um presidente da oposição, que não seja do gosto do petismo, posso aposta que o PSDB não saberá proceder a essa desconstrução do passado. Porque não é de sua natureza — e isso, se querem saber, é bom. Não acho que o petismo deva ser um modelo de ética para os demais partidos. Mas é bom ter claro: o PT sabe e soube, dentro e fora do poder, politizar os temas que são do interesse da sociedade; transforma tudo em uma guerra de valores: “nós” contra “eles”. O PSDB ainda não aprendeu a fazer isso. O DEM parece ter descoberto essa necessidade, e a luta contra a CPMF veio a demonstrá-lo. Se bem se lembram, os tucanos entraram tarde na peleja — e quase fazem besteira. A desnecessidade da CPMF, dado o recorde da arrecadação, está demonstrada. Os tucanos souberam aproveitar? No outro dia, já havia alguns deles ocupados em debater formas para recriar a contribuição... Santo Deus!

É preciso que as oposições, especialmente o PSDB, comecem a definir alguns temas pelos quais vale a pena lutar e se mobilizar. Até porque o “revanchismo triunfalista” se prepara para subir no palanque em 2008 e em 2010. Depois, então, de oito anos de governo petista, o palanqueiro Lula falará, uma vez mais, contra o... passado!!!