Editorial |
O Estado de S. Paulo |
24/1/2008 |
A crise do crédito hipotecário nos EUA afetou em primeiro lugar as instituições financeiras que, acumulando grandes perdas, têm de reconstituir seu capital, o que inibe a expansão de crédito. Mas essas dificuldades dos bancos norte-americanos e de alguns países europeus afetam a liquidez internacional e reduzem as facilidades que tinham os bancos brasileiros em captar recursos no exterior. É nesse quadro que se deve avaliar a evolução da conjuntura nos próximos meses. Nos EUA, onde o consumo depende essencialmente de crédito, pode-se perguntar se a redução da taxa básica de juros, decidida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), será suficiente para incentivá-lo. A médio prazo, as medidas anunciadas pelo governo Bush deveriam ter um efeito mais importante, num país onde a renda depende muito da evolução do mercado de ações. Tudo leva a crer que, enquanto essas medidas de estímulo ao consumo não forem aprovadas pelo Congresso, a economia ficará em atitude de espera. No Brasil, as autoridades, conscientes das dificuldades que poderemos ter de enfrentar no comércio exterior, apostam na continuidade de uma demanda interna elevada. Seguramente, o impulso registrado em 2007 deverá continuar a se fazer sentir neste ano, enquanto tudo indica que os investimentos industriais continuarão se expandindo para completar os projetos iniciados no ano passado.Trata-se de um fator importante, pois se traduz em certa distribuição de renda, mesmo no quadro de um ligeiro recuo da demanda global. Dois fatores principais, todavia, poderão afetar o crescimento da demanda: uma redução da renda real e uma diminuição da oferta de crédito, com elevação da taxa de juros e menor prazo dos financiamentos. Dada a rigidez da nossa legislação trabalhista, é difícil que, num médio prazo, haja redução dos salários nominais, mas uma inflação maior acarretaria redução da renda real. No plano do crédito podem ocorrer maiores dificuldades. A crise norte-americana está levando as instituições financeiras a uma política mais prudente de oferta de crédito. A elevação das taxas de juros no mercado futuro indica uma tendência de alta das taxas bancárias, especialmente num momento em que não se acredita em queda da Selic tão cedo. Paralelamente, os bancos encontram dificuldades em captar recursos, seja no mercado internacional, seja nas bolsas. Parece claro, pois, que a demanda doméstica poderá sofrer ligeira redução. |