Como se explica, no quadro de apertos, o "tour" das armas que Jobim e Mangabeira fazem na Europa?
SE O GOVERNO considera indispensável cortar pelo menos R$ 20 bilhões dos investimentos e outros gastos neste ano, sustar compromissos com o serviço público e impor corte aos outros Poderes, para adequar a vida e as contas aos cofres sem a CPMF, eis uma pergunta sem espera de resposta: como se explica, no quadro de apertos, o "tour" das armas que Nelson Jobim e Mangabeira Unger fazem, na Europa, para as compras multibilionárias de uma esquadrilha de caças de última geração; ao menos um submarino convencional e tecnologia de submarinos nucleares, tanques e outros possíveis equipamentos de guerra? O desembolso para a festança armamentista não é, ou não seria, todo de imediato, mas a folga dada pela CPMF acabou também para os anos vindouros. A incoerência se expressa por um modo ainda mais direto. Os militares reclamavam do que consideram a exigüidade das suas dotações orçamentárias, mas o aumento inscrito para este ano e parte do tradicional entraram na lista do corte, com a possibilidade de reduzir até R$ 9 bilhões da verba inicial proposta ao Congresso. Nem por isso o teórico e o pragmático da onda armamentista, Unger e Jobim, integram em seu "tour" comercial as cogitações orçamentárias. As incoerências nesse súbito armamentismo vão longe. A Marinha estima a necessidade de mais R$ 1 bilhão e de cinco anos para completar o seu atual trabalho por um submarino nuclear. Trata-se só do equipamento de propulsão. Pouco antes de viajar, disse Nelson Jobim que, mesmo com o corte de R$ 9 bilhões nos investimentos do Ministério da Defesa, estão assegurados R$ 130 milhões por ano para a Marinha desenvolver o propulsor. Em cinco anos, seriam R$ 650 milhões. Ou faltaria dinheiro ou sobraria tempo. Ou Jobim não sabe direito do cronograma da Marinha, cujo pessoal é muito bem preparado, ou não sabe direito das verbas e contas do seu ministério. Do mar ao ar, os dois estrategas não decolam para a precisão e informações convincentes. A compra da esquadrilha de caças a jato, diz Jobim, "não será nos moldes do processo anterior", não completado, mas "levando em conta a transferência de tecnologia" para o Brasil. Ocorre que a transferência de tecnologia foi um dos itens principais naquela concorrência, o que contribuiu para que o caça russo Sukhoi batesse o americano, o francês e o sueco. A novidade que a compra agora pretendida traz é outra: Nelson Jobim quer fazê-la sem licitação. Por escolha, processo de conclusões quase sempre discutíveis. E facilitador do encaminhamento segundo o representante comercial no Brasil -o que talvez explique a divulgada "preferência" por aviões franceses. Compra da ordem do bilhão sem licitação vai muito além da rima fácil. No neobelicismo não falta, porém, algo animador. Apesar dos recursos existentes, das contas feitas e das desfeitas às contas, e da velha dispensa de licitação, os estudos dos nossos ministros nos assuntos estratégicos militares incluem uma decisão providencial: a "opção por um submarino capaz de ficar submerso por um ano em águas profundas". Assim, quando Hugo Chávez ocupar o Brasil da Amazônia a Porto Alegre, ficará a salvo da carnificina um grupo para salvar da extinção a brava gente brasileira. Recomenda-se, portanto, não esquecer de presenças femininas na tripulação. Bem, não só pelo futuro. Um ano nas profundezas é muito tempo, seria insuportável sem algo mais do que oxigênio. |