BRASÍLIA - Lula não pode reclamar. Se os dados sobre o desmatamento da Amazônia tivessem saído há alguns meses, no auge da discussão sobre o aquecimento global, iria enfrentar críticas azedas. Mas a crise "do outro lado do Atlântico", para adotar a geografia lulista, acabou abafando um pouco o impacto das más notícias ambientais.
Antes, é bom qualificar as coisas. Assim como há muita estupidez relacionando a "destruição da Amazônia" com a mudança climática, um processo ainda aberto a muitas interpretações, é tolice falar em apocalipse florestal. Se o aumento no desmatamento assusta, a derrubada é menor que no passado.
Isso apesar da estrutura ridícula do Estado na Amazônia. Veja o caso do Mato Grosso: o efetivo do Ibama é insuficiente, há um pesadelo fundiário que ninguém tem coragem de enfrentar. Para completar, a corrupção grassa.
O problema é a curva do desmatamento, que foi invertida, e por isso o alarmismo oficial -pega mal ganhar um carimbo de governo pouco preocupado com o ambiente.
O problema é que, para atacar a questão, o Planalto terá de fazer algumas escolhas difíceis. É possível ou desejável barrar o agronegócio em favor da conservação?
Os fundamentalistas aliados à criacionista Marina Silva dizem que parar a motosserra e o "correntão" dos plantadores de soja e criadores de gado é um imperativo. Já os gananciosos amigos da brasileiríssima mistura de empresário e político Blairo Maggi dizem que tem muito mato para derrubar, que as críticas atrasam a economia.
A resposta certa é difícil, combinando exploração com conservação e adicionando elementos como entrar a fundo no mercado mundial de créditos de carbono e ganhar dinheiro com a floresta em pé. Mas não será com um pedido de moratória, impraticável, beirando o ridículo, que o governo irá resolver o problema.