Folha de S.Paulo
BRASÍLIA - Em 2007, crianças brasileiras nasceram porque o anticoncepcional injetável falhou, tomaram leite com soda cáustica e brincaram com brinquedos que produzem ecstasy líquido ou têm excesso de chumbo na tinta -caso de acessórios da popular Barbie. Pára e começa de novo! Ou muda tudo neste 2008 que começa hoje.
A lembrança foi do meu colega da Folha Gustavo Patu, pai do Caio e do André e expert na numeralha da economia. Daria para acrescentar, sem traço de humor e brincadeira, os rapazes mal-educados que esbofetearam uma empregada doméstica no Rio, ou a menina jogada numa cela com 20 homens no Pará e o menino torturado até a morte por policiais em Bauru (SP), dentro da própria casa, gemendo a poucos metros da mãe e da irmã. Que país é este aqui ou esse aí?
Mas 2007 foi também o ano em que a economia bombou, a renda aumentou, os empregos cresceram, a arrecadação foi recorde, milhões de pessoas saíram da linha da pobreza. Os ventos externos sopraram a favor da ortodoxia, dando razão a Pedro Malan e a Antonio Palocci. A Justiça tarda, mas não falha? Há controvérsias. Já a ortodoxia tardou, mas não está falhando.
Neste novo ano, é fazer o sucesso do país e dos números chegar ao cidadão e à realidade, especialmente às nossas crianças de norte a sul. Às que tomam leite e têm brinquedos e, com urgência, às que são obrigadas a se prostituir para sobreviver e às suspeitas de roubar motos para compensar o desamor. Que não caiam mais nas garras da polícia que trucida, mas sejam acolhidas pela que é paga para salvar.
A violência atinge todos, e não apenas os ricos, os compositores e atrizes que têm carros blindados e vão parar nas capas dos jornais. As vítimas mais frágeis são as crianças -e, entre elas, as mais pobres. Cabe a todos, governantes, legisladores e cidadãos, protegê-las. Mãos à obra e ótimo 2008!