O título da coluna podia até dar samba. Samba de Paulinho da Viola, até porque é dele a expressão. Pena que não dê samba, dê marcha fúnebre, porque se refere à violência (no caso, a do Rio de Janeiro, que atingiu o sambista diretamente no domingo). Mas poderia servir para qualquer outra cidade brasileira. São Sebastião, por exemplo, no litoral norte de São Paulo, onde Ed Carlos Queiroz Amaral, 39 anos, encontrou na madrugada de segunda-feira a bala com seu nome na roleta russa que é viver no Brasil nos últimos muitos anos. Para quem não leu: Ed Carlos estava passando as festas de fim de ano em uma casa de veraneio invadida por um assaltante. Resultado dos disparos: morte cerebral de Ed Carlos e ferimentos em duas pessoas da família, uma delas de cinco anos. Voltemos a Paulinho da Viola e sua constatação de que "há perplexidade, há um sentimento de insegurança, de desconforto, de impotência para alguns". Fora o fato de que o sentimento de impotência é de muitos, não de alguns, trata-se de uma apta descrição da realidade brasileira. Entra ano, sai ano; sai um governador, entra outro; sai um presidente, vem outro, nada muda. A descrença relatada pelo sambista de certa forma só faz aumentar porque o governador de turno no Rio, Sérgio Cabral, começou o ano passado, o seu primeiro, com um ânimo (ao menos retórico) diferente, pondo o dedo na ferida, falando em usar as Forças Armadas no policiamento, chamando a Força Nacional de Segurança. Toda essa agitação verbal, toda essa movimentação deu em nada ou em muito pouco, a julgar pelas avaliações de Paulinho da Viola, que não pode ser acusado de paulista querendo esculhambar o Rio de Janeiro. Fica a nítida sensação de que "uma certa descrença" invadirá 2008 e chegará a 2009, 2010... |