Já escrevi que o Brasil não seria assunto no encontro de 2008 do Fórum Econômico Mundial. Era óbvio. Se há uma crise nos Estados Unidos, ninguém consegue falar de outro assunto. Assim mesmo, surpreende que um país tão grande e em tão boa fase econômica seja absolutamente ignorado nos debates sobre o estado do mundo. Afinal, o Brasil é o "B" de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o grupo que, segundo a Goldman Sachs, estará na linha de frente do mundo a partir de 2020. Em Davos, falou-se, sim, e muito, de Índia e China (outra faceta habitual dos debates), um pouquinho de Rússia, mas nada, rigorosamente nada, de Brasil, salvo quando algum brasileiro provocava com suas perguntas. Ou na sessão específica sobre América Latina. Perguntei a Fred Bergsten, que trabalhava no Instituto para a Economia Internacional, onde nasceu o Consenso de Washington, a razão dessa formidável omissão. Resposta dura e direta: "Quando o Brasil crescer 8%, 9% ou 10%, passarão a falar dele". Parece uma explicação consistente. De certa forma, o Brasil chegou tarde à festa mundial do crescimento econômico, encenada nos últimos cinco anos. Só em 2007 deu-se um relativo "espetáculo do crescimento", embora o presidente Lula o tivesse prometido para 2003. Mesmo assim, foi um crescimento pouco acima de 5%, ainda longe dos 8% a 10% que Bergsten pede para que o país se torne assunto. Uma evidência de que o Brasil pode ter entrado na festa quando ela está terminando (ou já terminou) vem na resposta de Nouriel Roubini, outro economista-estrela, à pergunta: se fosse presidente do Brasil, ele sentir-se-ia "tranqüilo" como Lula disse que estava? Roubini reconheceu avanços na economia brasileira, mas afirmou também que "o espaço para complacência é limitado".
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