Para isso, precisamos de um plano estratégico para chegar a objetivos definidos. Que Brasil queremos ter? MESMO SEM um plano ou um planejamento para a nação, a economia brasileira deu uma demonstração de pujança ao dar um salto econômico que forçou a revisão da taxa prevista de crescimento. Com um balanço de pagamentos superavitário e uma reserva de divisas saudável (conseqüência da demanda chinesa), bastaram um aumento do mercado consumidor, decorrente da expansão da massa salarial e do programa assistencialista, uma maior disponibilidade de crédito a longo prazo, em razão da queda da taxa de juros, e o início de maiores gastos públicos para que a nossa economia respondesse positivamente. O crescimento econômico anual de 5,2% nos tirou da disputa com o Haiti pelo último lugar. Porém, esse crescimento ainda é muito aquém das possibilidades de um país que reúne mais condições que a China ou o Japão. Nossos erros de percepção e de concepção dos ensinamentos do professor Friedman nos deram a merecida distinção de sermos os melhores no mundo em "administração monetarista da pobreza". A aplicação em excesso da dose monetarista sempre conseguiu neutralizar qualquer crescimento de nossa pujança econômica. Assim, os malfadados planos e pacotes econômicos que adotamos só serviram para reestruturar repetidamente o país a fim de aperfeiçoar nosso modelo de pobreza. Como nação, nosso problema tem sido a incapacidade de organização econômica a fim de gerar riqueza. Tentativas de taxar cada vez mais a pobreza só inibem os investimentos necessários, aumentam a informalidade e nos distanciam da realidade -segundo a qual menores tributos e menores custos incentivam investimentos e possibilitam maior arrecadação tributária, em razão da expansão econômica, para investimento em logística, educação e saúde. Isso, com nossas tentativas de decretar formas para distribuir com maior eqüidade a miséria, tem aumentado o custo Brasil e tornado a nação refém desse modelo econômico de pobreza. Todavia, não é tão difícil ou demorado mudar o Brasil. O Plano de Metas do presidente Kubitschek transformou o país de sociedade rural em economia industrial em só um governo. O breve mandato do presidente Collor conseguiu redefinir o país. A abertura econômica, a modernização, o conceito de qualidade e de competitividade foram visões que em pouco tempo mudaram a nação. O que falta é um líder com nítida visão política de prosperidade e com a coragem de fazer as reestruturações necessárias para eliminar o custo Brasil e o "sistema de entraves" que arquitetamos com tanta perfeição. A adoção de um modelo econômico de riqueza, com estímulo ao crescimento por meio de menor tributação, taxas de juros razoáveis, legislação e encargos trabalhistas que gerem empregos formais, entre outras providências, pode aumentar a receita tributária e nossa competitividade, evitando que empresas nacionais busquem países de menor custo. Para isso, precisamos de um plano estratégico, com um planejamento de curto, médio e longo prazo, para chegar a objetivos definidos. Que Brasil queremos ter? A falta de planejamento dificulta a construção de uma nação próspera. Muitas vezes, a administração desta nação é feita no improviso -e medidas improvisadas se tornam permanentes. Nos EUA, o Conselho de Assessores Econômicos do Presidente é um órgão que cuida da economia do país. O planejamento econômico chinês é feito pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma. No Brasil, ficamos sem capacidade de planejamento, com um Ministério do Planejamento que, na verdade, é um ministério somente do Orçamento. A teoria mercantilista, com uma política de câmbio favorável e de baixos custos, impulsionou o enriquecimento dos tigres asiáticos com receitas oriundas de exportação, foi o caminho da prosperidade da China e é modelo para o Brasil. Podemos e devemos adaptar tais princípios econômicos às nossas condições. São essas receitas em divisas que têm retirado o risco externo da nossa economia e servem de base para nossa expansão. Com sua economia mercantilista, o povo chinês conseguiu atingir um patamar de bem-estar social jamais alcançado em seus mais de 5.000 anos de história escrita. Podemos deixar de ser eternamente o país do futuro e construir, no presente, o maior "tigre de exportações" do mundo, nos tornando, assim, uma potência econômica.
CHARLES ANDREW TANG, 61, membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial e membro fundador do Ipede (Instituto de Pesquisa e Estudos de Desenvolvimento Econômico), é presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. |