BRASÍLIA - O Brasil vai bem, obrigada, depois de FHC e de Lula. Tá certo que não chega a avançar tanto quanto os parceiros do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), mas é a 10ª maior economia do planeta, segundo o Banco Mundial.
O país produziu US$ 1,585 trilhão em 2005, o que corresponde a 2,88% das riquezas geradas no mundo e praticamente metade de tudo o que a América do Sul gerou. Não é pouco. Aliás, é muito.
O problema é que o Brasil dos brasileiros não está nem perto disso. É o último no ranking de países de alto desenvolvimento humano e está entre os lanterninhas da educação de jovens (em leitura, matemática e ciências, que são fundamentais).
É uma conta que não bate. O país produz riquezas, mas para onde vão essas riquezas?
Os brasileiros parecem entregues não só ao descaso do Estado mas à sanha assassina de agentes do Estado. Todos estão à mercê da violência. E os mais pobres e mais frágeis, à mercê da violência do Estado.
O ano termina com perplexidade e dor diante da história de dois adolescentes brasileiros: a menina que foi jogada por uma delegada e mantida por uma juíza numa cela com dezenas de homens no Pará e, agora, o menino suspeito de furtar uma moto, preso pela Polícia Militar na própria casa e assassinado em Bauru, próspera cidade de São Paulo, o mais desenvolvido e sofisticado Estado do país.
Não bastasse, esse jovem foi morto depois de 30 choques elétricos -no rosto, na orelha, no tórax, no saco escrotal, no coração. Uma tortura bárbara que escandalizava o mundo durante o regime militar brasileiro e deixou profundas marcas na alma e na história do país.
Tantos anos depois da ditadura, o Brasil continua entre as dez maiores economias do mundo, lanterninha na educação e capaz de torturar jovens em suas cadeias, bem debaixo do nosso nariz. O Estado continua algoz. E nós, omissos.