sexta-feira, novembro 02, 2007

Yoko Ono expõe em São Paulo

As obras da sra. Lennon

Uma exposição demonstra que a
grande realização artística de Yoko
Ono foi mesmo se casar com um beatle


Sérgio Martins

Divulgação
Espécies em Extinção, uma escultura antiguerra: tudo bem conceitual, entende?

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Imagens das obras

Quando Yoko Ono conheceu John Lennon, ela já tinha uma carreira artística. Fazia parte de um grupo de vanguarda conhecido como Fluxus, dono de alguma notoriedade. Ao casar-se com o beatle, porém, Yoko se viu convertida em "mulher de Lennon". E, depois do assassinato do cantor, em 1980, em "sua viúva". O vínculo com o grande ídolo eclipsou tudo o mais que ela pudesse fazer. Justiça? Injustiça? A partir do sábado 10, o público brasileiro poderá conhecer o trabalho da artista japonesa de 74 anos na mostra Yoko Ono – Uma Retrospectiva, que será aberta no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. A exposição traz oitenta obras, entre instalações, fotografias, músicas, filmes e objetos. Antes disso, na quinta-feira 8, ela subirá ao palco do Theatro Municipal de São Paulo para apresentar Uma Noite com Yoko. A arte de Yoko sempre teve uma dimensão performática: em Cut Piece, de 1964, o público era convidado a cortar, com uma tesoura, pedaços da roupa da artista, até que ela ficasse completamente nua. Calma, São Paulo. Por aqui, devem ser só músicas e projeções.

Filha de uma família abastada, Yoko estudou nos melhores colégios do Japão – foi colega de aula do escritor Yukio Mishima – e milita no mundo das artes desde o início dos anos 60. Conheceu John Lennon em 1966, quando ele foi a uma exposição dela e se encantou com Ceiling Painting (Pintura no Teto), composta de uma escada branca em cujo topo estava escrita a palavra "yes". "John dizia que aquele foi o começo do nosso romance. Mas eu não sabia que estava dizendo 'sim' para ele", contou ela em entrevista a VEJA. Ceiling Painting é uma obra típica da arte conceitual, vanguarda dos anos 60 e 70 que dava mais importância ao "conceito" do que à obra em si – daí a profusão de instruções, legendas, palavras. Pobre derivativo da arte do francês Marcel Duchamp, a arte conceitual não foi muito mais do que uma moda, hoje mais antiquada do que calça boca-de-sino.

Entre as obras mais curiosas da mostra, estão dois trabalhos em vídeo. Fly acompanha a viagem de uma mosca pelo corpo de uma mulher nua, que não se mexe nem quando o inseto passeia por seus lábios e seios. Dura excruciantes 25 minutos, com direito a uma trilha sonora bem típica da artista – ruídos e gritos. Bottom tem mais humor: mostra o traseiro nu de alguns amigos de Yoko, filmados enquanto caminhavam. Outras obras são engajadas. Yoko e Lennon certa vez passaram uma preguiçosa semana na cama para pedir paz. Ela continua erguendo a mesma bandeira vaga: sua instalação mais recente, Imagine Peace Tower, foi inaugurada no início do mês passado na Islândia e pretende "trazer luz ao mundo". Em São Paulo, estará em exposição a Objetos de Sangue, que traz roupas e artefatos do dia-a-dia manchados de sangue, representando (é um lance conceitual, entende?) a opressão à mulher. O mesmo tema aparece na canção Woman Is the Nigger of the World (algo como A Mulher é o Crioulo do Mundo). "Quando escrevi essa letra, o número de mulheres vítimas de violência doméstica nos Estados Unidos era alarmante, e não mudou muito desde então", diz Yoko. No mesmo registro feminista, há uma obra chamada My Mummy Was Beautiful (Minha Mamãe Era Bonita), com fotos de seios e vaginas. "Não sei por que o público ficou horrorizado. Nós saímos de uma vagina", ironiza ela. A obra de Yoko Ono é isso aí. Não resta dúvida de que seu projeto artístico mais notável foi se casar com John Lennon.