quarta-feira, novembro 28, 2007

FHC rebate Lula e diz que ?não pode haver preconceito contra quem sabe?

Ele só fala de mim nas entrevistas, reage tucano


Carlos Marchi


"Ele (o presidente Luiz Inácio Lula da Silva) não consegue dar uma entrevista sem me dar uma agulhada e quer que eu fique calado?", desabafou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao explicar o episódio em que, no congresso do PSDB, semana passada, teria criticado o português do presidente Lula. FHC negou que tenha dito isso e explicou que apenas defendeu o PSDB, que, segundo ele, é tachado de elitista porque tem acadêmicos.

"Não pode haver preconceito contra quem sabe", reclamou o ex-presidente. Ele afirmou que a situação está sendo invertida: o presidente Lula e o PT querem consagrar a idéia de que saber é errado. "O que é isso, onde nós estamos?",surpreende-se FHC. E responde taxativamente: "Saber não é errado". Ele lembrou que, na campanha de 2002, quando alguém colocou em dúvida a formação de Lula, ele se apressou em afirmar que não é preciso ser doutor para ser presidente.

"Mas também não é empecilho o presidente ser doutor", replicou. FHC queixou-se de que algumas vezes Lula faz insinuações de que ter alta formação é o mesmo que pertencer à elite, com certo sentido pejorativo. "Ele parece dizer que, como sabe, não pode (ser presidente)." E carimbou: "Aí, sim, está o preconceito. Eu sou contra qualquer preconceito".

O ex-presidente disse que apenas tem respondido às críticas que recebe. "Eu não critico, desde que quem está no cargo não me critique também", ponderou. Rebateu a afirmação de Lula de que nos EUA não há essa troca de críticas entre presidentes. "Ele está redondamente enganado. Nos EUA, o (ex-)presidente Clinton briga com o presidente Bush a valer."

Mas minimizou o efeito da troca de farpas entre os dois. Disse que não mistura questões pessoais com questões políticas e que as críticas não devem ser levadas "ao pé da letra". Observou: "Uma agulhada aqui outra ali, faz parte da natureza humana". Brincou: "Mas não me peça que eu fique calado e comece a me agulhar. Eu não sou São Sebastião". E, ao final, admitiu que ele e Lula podem voltar a ser amigos: "Desde já. A nossa relação pessoal é muito normal. Agora, de vez em quando eu faço uma brincadeira. E ele também faz".

COMPROMISSO

No lançamento de um livro sobre o Mercosul, o ex-presidente disse ontem que o ingresso de um país no acordo multilateral não pode ser feito com bases políticas. "O Mercosul é um acordo de integração econômica, não de integração política", ressalvou. A juízo de FHC, "a Venezuela está perigando não cumprir as cláusulas democráticas do Mercosul". Neste momento, ensinou, não deve haver prejulgamentos. O Brasil deve indagar ao governo venezuelano se pretende cumprir a cláusula democrática. "Se eles acharem que não vão cumprir, problema deles. Mas aí não entra. Que fique fora."

Para FHC, os países-membros têm direito de cobrar de Hugo Chávez o compromisso de cumprir os acordos comerciais e não direcionar futuros acordos. Ele disse ver com alguma preocupação a situação do Mercosul, que "nunca esteve tão próximo de uma fratura". Lembrou que os acordos da União Européia se mantêm preservados "porque não são políticos". Ele afirmou que alguns países estão "querendo que todos sejam alinhados e se fechem numa espécie de bunker" e o Mercosul "foi feito para se abrir e não se fechar".